Análise

De que nos serve o que não temos?

Numa semana em que muitos abriram a boca para falar de plano de contingência aeroportuário, alguns esqueceram-se de bater à porta certa neste domínio, - a mesma que factura dezenas de milhões todos os anos e aumenta taxas sem pudor -, mas sobretudo de ir ao cerne da questão. Importa por isso alertar as habituais vozes da ira para aquilo que a Região precisa com urgência: elevada dose de sensibilidade, planos de actuação exequíveis, eficazes e transversais, mas sobretudo, estratégia focada no bem comum e não na satisfação de egos desmedidos, de modo a não agravar os problemas que a descontinuidade territorial gera por natureza. Até porque os constrangimentos diversos não se limitam ao intermitente aeroporto da Madeira ou ao controlado Porto do Funchal, ao saturado Hospital Dr. Nélio Mendonça ou à via rápida inevitavelmente mais lenta. Os problemas enervantes crescem como cogumelos também porque o maior condicionalismo à afirmação da Região em diversos domínios deriva de um conjunto de inabilidades domésticas, de falta de posicionamento crítico face a decisões tomadas já em plena era autonómica e de subserviência inexplicável aos promotores do ridículo.

Há décadas que o tema das limitações ganha dimensão de escândalo. Basta que os ventos soprem contra os interesses dos madeirenses ou a favor da ignorância atrevida dos que pedem planos de contingência, mas não mexem uma palha para que a Madeira tenha planos operacionais de que se orgulhe, concebidos para serem excelentes em condições normais, mas aplicáveis também aos momentos cruéis e imprevisíveis. O que realmente a Madeira precisa, desde os aeroportos aos portos, dos transportes públicos aos privados, dos mercados às lojas é de rigor e seriedade, de alternativa e de concorrência, de mercado livre e de gestões lideradas por competentes.

Isto não vai lá com comunicados e birras, com queixas e ameaças, gritos e protestos, com recados para Lisboa e retaliações centralistas, com amadorismos e provincianismos. Os madeirenses que pagam impostos e os que não o podem fazer por razões atendíveis estão fartos de desculpas e merecem mais.

Não pode o esforço promocional do destino, a que os mercados de origem têm dado respostas nunca vistas, ficar comprometido com teimosias políticas, com limites de ventos obsoletos ou com a deriva governativa nacional. Não pode a vida de quem depende de uma passagem aérea estar em risco só porque, por causa de 3 nós, não aterram aviões que deviam levar o cidadão adoentado e já sem medicação à clínica onde tem cirurgia marcada. Não podem os decisores do futuro colectivo fingir que o tempo resolverá o que os homens são incapazes de perceber como urgente e decisivo.

Mexam-se os eleitos, mas façam-nos o favor de não se doutorarem com teses que desviam atenções. Estudem e trabalhem pelo nosso futuro, que não pode estar dependente de eventualidades, à mercê de boas intenções e anestesiado por hipóteses. Mais do que palpites, precisamos de certezas e mais do que discussões estéreis, opções fundamentadas. Até porque qualquer cidadão com os euros contados, de modo a poder a honrar compromissos, tende a não tolerar o entretenimento em curso, patrocinado com dinheiros públicos, nem muito menos aqueles que, sem carácter, recorrem à vitimização como forma de afirmação política.