EUA dizem à China que querem 'ir além' das tensões provocadas pelo caso do balão
O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, disse hoje ao responsável máximo pela política externa chinesa, Wang Yi, em Viena, que Washington está a "procurar ir além" das tensões provocadas pelo caso do balão chinês.
A reunião não foi anunciada por Washington ou Pequim com antecedência. A Casa Branca descreveu as amplas discussões, nas quais os dois líderes passaram mais de oito horas juntos, como "sinceras" e "construtivas".
Um funcionário do Governo norte-americano, citado pela Associated Press, informou os jornalistas, sob condição de anonimato, que ambos os lados reconhecem que o incidente do alegado balão de espionagem chinês, abatido nos EUA, em fevereiro passado, foi "infeliz" e que estão agora à procura de "restabelecer os canais normais de comunicação".
O encontro é o último de uma série de pequenos sinais de que as tensões podem estar a diminuir entre as duas maiores economias do mundo.
À medida que a rivalidade política e militar entre a China e os EUA se intensifica, os analistas temem que a falta de linhas de comunicação possa transformar um confronto menor em hostilidades maiores.
Eles apontam como exemplo a importância da capacidade de os EUA comunicarem com a antiga União Soviética para evitar uma guerra nuclear.
A Casa Branca disse, em comunicado, que a reunião faz parte dos "esforços contínuos para manter linhas de comunicação abertas e administrar a competição com responsabilidade", e que Sullivan e Wang discutiram questões-chave no relacionamento EUA - China, incluindo a invasão russa da Ucrânia ou a questão de Taiwan.
A reunião ocorreu num hotel de luxo ao longo da histórica Ringstrasse de Viena, de acordo com uma autoridade austríaca familiarizada com o assunto. O funcionário revelou que o planeamento da reunião foi feito em segredo e que as autoridades austríacas foram avisadas com apenas alguns dias de antecedência de que Viena foi escolhida como local para as negociações.
As autoridades chinesas consideraram as discussões "substantivas" e disseram que ambos os lados vão "continuar a fazer bom uso dos canais de comunicação estratégica", segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.
Sullivan referiu as preocupações da Casa Branca sobre a falta de um "envolvimento construtivo" pela parte de Pequim, para pressionar a Rússia a pôr fim à invasão da Ucrânia, e pediu à China que faça mais para impedir a exportação de drogas ilegais para os EUA, segundo o funcionário do Governo.
Washington tem, em particular, pressionado a China a combater a produção de precursores químicos usados para fazer fentanil, o opióide que mais mata nos EUA.
Sullivan também referiu os casos de três cidadãos norte-americanos presos na China - Mark Swidan, Kai Li e David Lin.
As tensões entre os países aumentaram no ano passado, após a visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, que levou a China, que reivindica a ilha como uma província sua, a lançar exercícios militares em torno do território.
As tensões agravaram-se no início deste ano, depois de os EUA terem derrubado um balão chinês alegadamente usado para fins de espionagem, que cruzou o território norte-americano.
Pequim também reagiu com exercícios militares à escala da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, nos EUA, no mês passado, que incluiu um encontro com o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy.
Mas há sinais de que os dois lados estão a retomar as comunicações diplomáticas.
O presidente norte-americano, Joe Biden, e o homólogo chinês, Xi Jinping, reuniram-se em Bali, na Indonésia, em novembro passado. O secretário de Estado, Antony Blinken, tinha programado viajar para a China em fevereiro, mas a viagem foi adiada após o incidente com o balão.
A Casa Branca manifestou interesse em reagendar a visita de Blinken. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse no início desta semana que a secretária do Tesouro, Janet Yellen, e a secretária do Comércio, Gina Raimondo, também poderão visitar Pequim a qualquer altura.
O embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, e o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, também se reuniram, em Pequim, esta semana, e o enviado especial de Biden para o clima, John Kerry, falou por telefone no mês passado com o seu homólogo, Xie Zhenhua.
Durante um fórum virtual organizado pelo Stimson Center, no início deste mês, Burns disse que a comunicação está a melhorar.
"Sim, tivemos casos em que queríamos ter certas conversas de alto nível mas que não era possível", disse Burns. "Mas devo dizer que, nas últimas semanas, no último mês ou mais, houve uma comunicação consistente entre mim e altos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros", acrescentou.