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Quando a realidade supera a ficção

A maioria absoluta pedida por Costa, durante tanto tempo, revelou-se a plataforma perfeita da desorganização, caos e ingovernabilidade de um país. Se, durante anos, se referiu que as maiorias absolutas eram essenciais para a adoção das políticas necessárias ao desenvolvimento de qualquer território, o PS e António Costa conseguiram provar que os conceitos, por muito repetidos que sejam, nunca correspondem a uma definição estanque.

Além de tudo isto provocar o descrédito nas instituições e no próprio regime democrático, esta crise obriga-nos a refletir sobre um outro aspeto: em condições normais, caso não tivessem existido as eleições antecipadas de janeiro de 2022, estaríamos em fim de ciclo governativo. Tanto na Madeira como a nível nacional, seríamos chamados a escolher quem queríamos na ALRAM e na AR. E nesse sentido, é importante vermos de onde partimos e onde estamos a chegar.

Por vezes paro e reflito: será que alguém tem a ousadia de dizer que a Madeira está pior do que há 4 anos e o país melhor?

Uma Região que respondeu, como poucas, ao flagelo da pandemia, iniciou uma estratégia de requalificação do produto turístico, rejuvenescendo-o, aliando a isso uma política de desagravamento fiscal sobre as famílias e empresas que poupou mais de 155 milhões de euros à economia regional; que apesar das difíceis metas de concretização preconizadas pela Europa para a conclusão do PRR, apresenta uma boa taxa de compromisso e execução nas mais diversas áreas, e uma Região que investiu no descongelamento de carreiras de professores e enfermeiros para preparar o futuro seja de mais jovens ou mais velhos; uma Região que, no âmbito das suas políticas, apostou em respostas diferenciadas na formação dos jovens, seja na sua formação ou aproximação ao mercado de trabalho. O menor número de desempregados desde 2008. O País fez melhor?

O que dirão os “arautos do desenvolvimento” em quem os madeirenses nunca confiaram, nomeadamente, sobre o estado do país, em áreas como a Educação e a Saúde em que, infelizmente, em que todas as semanas recebemos notícias sobre jovens que ficaram sem aulas ou horários incompletos pelo terceiro ano consecutivo, ou maternidades que vão de fim-de-semana? Um Estado que não responde e obriga um cidadão a pôr-se numa fila às 04h, ao frio e à chuva, para tratar de um documento ou apanhar um comboio, ou, simplesmente, os sucessivos protestos de professores, enfermeiros e diversos serviços do estado que lesam a vida dos cidadãos porque o Estado se revela incapaz de resolver os problemas das pessoas. Onde anda a paz social?

Quentin Tarantino podia escrever uma trama com muitos tiros e volte-faces, todavia seria difícil para muitos aceitar que 4 anos de ciclo governativo demonstrassem que a estabilidade, progresso e visão de futuro residiam afinal numa região autónoma. A realidade supera sempre a ficção.