Crónicas

A sério?

Há uns anos, uma das principais dificuldades do sistema financeiro era o crédito malparado. Com a assumpção pública de que milhões pedidos por possidentes empresários eram incobráveis. Desfaçatez a que assistiam os remediados clientes que a cada pequena falha saltavam-lhes em cima. Hoje essa situação melhorou e a banca, mais avisada, fê-lo reduzir. Apesar de Portugal continuar a ter o 2º maior rácio da Europa. Pior só a Grécia.

Agora não é só esse o problema. A inflação vem implicando um agravar considerável do custo de vida, particularmente dos que precisaram de crédito e o contraíram por absoluta necessidade. E dos que não o fazem, atendendo à dimensão excessiva dos juros, cuja subida exponencial parece não ter fim.

E é neste enquadramento que surge a notícia que os administradores dos bancos têm vindo a auferir aumentos de 20% sobre as já avantajadas remunerações e prémios duplicados. Não abordo o merecimento, mas o momento e a conjuntura.

Este esbanjamento salarial para alguns, num sector que mais aperta o dia a dia dos cidadãos, suscita fundada perplexidade. Junto aos que detêm acrescidos problemas para resolver, face à ascensão substancial do custo dos empréstimos, sobretudo para habitação. Nalguns casos tornados insustentáveis e conduzidos, sem apelo nem agravo, ao incumprimento.

Tem laivos de imoralidade, agrava as desigualdades e é inoportuno. Para mais depois das ajudas avultadas que algumas instituições de crédito obtiveram por parte do Estado. Ou seja, dos contribuintes. Ainda por cima porque, quando a banca dá lucros, distribui-os pelos acionistas privados, quando dá prejuízo, já é o sector público que, para salvar o sistema financeiro, tem de acudir e pagar.