Mobilidade académica entre países lusófonos é ainda uma meta a atingir
A mobilidade académica entre países lusófonos ainda é uma meta a atingir, com Cabo Verde e o Brasil mais avançados nesta área e outros menos desenvolvidos, como Timor-Leste, disse o presidente da Rede Académica das Ciências da Saúde da Lusofonia.
Jorge Conde, presidente da Rede Académica das Ciências da Saúde da Lusofonia (RACS) falava à agência Lusa a propósito do último encontro desta organização, que decorreu em São Vicente (Cabo Verde), e no qual foram abordadas as diferentes realidades dos países lusófonos nesta área.
O também presidente do Instituto Politécnico de Coimbra indicou que a meta de o ensino superior das ciências da saúde praticado nos países lusófonos ser reconhecido em todos eles ainda não é uma realidade.
Mas mostrou otimismo: "Estamos cada vez mais próximos de sermos uma verdadeira comunidade na área da saúde".
"Estamos muito habituados a trabalhar em padrões europeus e quando misturamos brasileiros, timorenses e africanos as coisas mudam de contexto", disse, indicando que o principal propósito da RACS é conseguir "chegar a um patamar" em que os alunos que são formados nas instituições da CPLP "possam circular livremente" nos estabelecimentos lusófonos.
Uma mobilidade que, para já, ainda não se sente totalmente, até porque há profissões que só existem em alguns dos Estados e ainda assim com padrões de ensino diferentes.
"Temos em Portugal um conjunto de profissões na área da saúde que não existem em nenhum outro país e profissões que existem no Brasil que mais nenhum outro país tem", explicou.
E acrescentou: "A mobilidade de Portugal para fora até pode ser relativamente fácil, porque estaremos num patamar ligeiramente mais evoluído, com maior conteúdo que nos outros países, mas o inverso não é verdade e sabemos que estas coisas da mobilidade assentam muito na reciprocidade".
"Enquanto essa reciprocidade não for possível a mobilidade tem sempre a sua dificuldade", adiantou.
As maiores dificuldades sentem-se em Timor-Leste, não só por se encontrar num estadio de desenvolvimento claramente diferente dos outros países, mas também porque apenas conta com um recente associado da RACS.
Além disso, adiantou, as dificuldades também se devem ao pouco uso da língua portuguesa.
Angola e Moçambique, por exemplo, têm algumas áreas ligadas à saúde que ainda não são ensino superior ou que são e convivem com ensino não superior, o que levanta algumas questões em relação ao reconhecimento, prosseguiu.
Mas em Cabo Verde, por seu lado, já estudam alunos portugueses em programa Erasmus.
Segundo Jorge Conde, a circulação continua a ser sempre maior para Portugal, mas o grande problema são as estadias mais longas que exigem um visto, além do turístico.
"Continuamos a ter muita dificuldade de mobilidade dentro da CPLP porque continua a ser difícil obter vistos de circulação quando a estadia é longa", referiu, recordando que "a rede assenta muito nesta ideia de mobilidade".
E exemplificou com a instituição a que preside e que aguarda há três meses por dois estudantes de Cabo Verde, país de onde supostamente há menos dificuldades de mobilidade.
"Temos muitos alunos brasileiros que se matriculam em Portugal e que desistem ao fim de um mês ou dois porque não conseguem visto e o ano letivo já começou", disse.
A RACS é uma organização de instituições de ensino superior na área da saúde, de sete países de língua portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
O objetivo da rede é promover a formação e a cooperação científica na área da saúde no espaço lusófono, contando com meia centena de membros efetivos e entidades parceiras e um universo de mais de 90.000 estudantes e 4.500 docentes.