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Crença na democracia continua elevada no mundo mas Governos estão a defraudar expectativas

Foto Shutterstock
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Uma parte importante da população mundial considera que os Governos estão a defraudar as expectativas democráticas dos cidadãos e está insatisfeita com a qualidade democrática, mas a maioria continua a acreditar nos méritos deste regime político, foi hoje revelado.

Esta é uma das conclusões do Índice de Perceção da Democracia, um estudo realizado pela Fundação Aliança de Democracias (do antigo secretário-geral da NATO e ex-primeiro-ministro dinamarquês Anders Fogh Rasmussen) em parceria com a empresa tecnológica Latana.

O estudo questionou mais de 50.000 pessoas em 53 países (incluindo Portugal), representativos de mais de 75% da população mundial, para tentar compreender a forma com os cidadãos olham para os sistemas de governo globais.

A edição deste ano (a 6.ª edição), hoje divulgada, revela, entre outros aspetos, um decréscimo de satisfação das pessoas na qualidade dos regimes democráticos em que vive, mostra que nos países ocidentais as pessoas mantêm o apoio à resistência ucraniana perante a invasão russa (iniciada em fevereiro de 2022) e conclui que, se a China invadir a ilha de Taiwan, a maioria dos inquiridos defende o corte de laços económicos com Pequim.

A maioria dos entrevistados (57%) mostra-se satisfeita com a democracia nos seus países, mas cresce a insatisfação em vários parâmetros de avaliação dos regimes políticos, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos.

Na Europa, apenas um terço dos húngaros, 40% dos polacos e cerca de metade dos gregos (49%), dos franceses (49%) e dos holandeses (53%) acredita que o seu país vive numa verdadeira democracia.

Segundo o estudo, a crença na democracia permanece elevada em todo o mundo, com 84% dos cidadãos a desejarem este tipo de regime político para o seu país.

Contudo, uma parte importante da população reconhece que os regimes democráticos estão debaixo de fortes ameaças, nomeadamente por questões económicas.

A desigualdade económica é vista como a principal ameaça à democracia em todo o mundo (69%), seguida pela corrupção (68%) e pela influência de empresas globais (60%).

No caso dos Estados Unidos, aumentou ainda o número de pessoas que teme que as eleições deixem de ser justas e transparentes (de 49%, em 2021, para 61%, este ano).

Cerca de metade das pessoas - tanto em países democráticos como não democráticos - sente que o seu Governo está favorecer os interesses de pequenos grupos de pessoas, muitas vezes associadas a grandes empresas, em particular na área das tecnologias.

"Em todos os países, as pessoas estão a pedir mais democracia. A brutal invasão da Ucrânia mostra que não podemos tomar a liberdade e a democracia como garantidas. Devemos fazer mais para proteger e promover os direitos cívicos, a liberdade individual e os princípios democráticos básicos", defendeu Anders Fogh Rasmussen, fundador e presidente da Fundação Aliança de Democracias, num comentário às conclusões do relatório.

"O mundo continua unido sobre a ideia da importância da democracia, Mas há uma clara linha divisória quando se trata de arcar com os custos económicos que ela implica", acrescentou, por sua vez, Nico Jaspers, diretor-executivo da Latana.

O estudo hoje revelado será discutido na sexta Cimeira da Democracia, que se realizam em Copenhaga na próxima semana (dias 15 e 16 de maio), organizada pela Fundação Aliança de Democracias (também conhecida como Rasmussen Global).

No encontro estarão presentes, entre outras personalidades, o atual secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, a líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya, o Presidente checo, Petr Pavel, a ex-líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos Nancy Pelosi, e a ex-primeira-ministra do Reino Unido Liz Truss.