Crónicas

Há lá coisa mais importante?!

A educação pede uma transformação urgente de paradigma. Em vez de forçar, colaborar; em vez de meter medo, partilhar a vulnerabilidade; em vez de enterrar o outro na culpa, chamar à responsabilidade; em vez de impor castigo, apresentar as consequências; em vez de apontar o dedo, apontar uma direcção. Só assim o mundo avança!

Penso que os tempos que vivemos são um convite perfeito, uma oportunidade única para mudar a perspectiva da educação do medo, para o amor. O mundo atual está pejado de pessoas sedentas de se sentirem vistas, reconhecidas e escutadas, aceites como são. Vivemos dias tempestuosos, onde a falta de autoestima é compensada por ostentação. Vivemos num mundo que grita para curar feridas escancaradas, carregadas há gerações. Um mundo onde impera a ausência de autenticidade e honestidade. Um mundo com pessoas que precisam de ser relembradas e capacitadas com empatia, compaixão, serenidade, generosidade e gentileza. Um mundo que precisa de (re)aprender que temos todos, todos igual valor, dignidade e que somos merecedores de amor.

As nossas principais mazelas internas, dizem os especialistas, acontecem nos primeiros anos de vida. Na verdade, acontecem até aos sete anos. As vozes dos nossos pais, professores e educadores, que inicialmente são externas, por assimilação tornam-se vozes internas: vozes às quais damos o crédito de verdade absoluta, e instalamos, tão comodamente, ao nível da nossa identidade.  À medida que crescemos, perdemos consciência de que carregamos connosco essas marcas profundas. E, claro, há feridas emocionais ativas sem que delas tenhamos consciência. É por isso que há por aí tantos problemas de autoestima difíceis de desenraizar. Quando começamos a notar este processo, concluímos facilmente, que as nossas mazelas interiores – muitas transformadas em trauma - têm condicionado o modo como criamos e nutrimos (ou não) as nossas relações, sobretudo as mais íntimas, onde as máscaras e os filtros são mais testados, mas, sobretudo e, acredito que ainda mais relevante, determinam a forma como nos relacionamos connosco próprios! 

Ora, esta consciência traz consigo outra, a de que cada um de nós, desde a sua maturidade emocional, perceba, de uma vez por todas, que o foco deve estar na mudança da própria consciência e na mudança de perspectiva e presença dos pais, dos professores, dos educadores em vez de centrar no julgamento do comportamento “certo” ou “errado” da criança, do adolescente, do jovem. Antes de tentar mudar o outro, a educação generativa, consciente convida-nos a olhar com curiosidade e criatividade para os nossos próprios padrões, respostas automáticas e triggers. Olhar primeiro para dentro, para trazer mudança externa para fora, na relação com os filhos, alunos e na dinâmica familiar. Adultos generativos, conscientes, tomam decisões alinhadas com as suas verdadeiras intenções e valores – decisões alinhadas com o que querem ver no mundo. Em vez de reagirem, agem centrados, alinhando os três cérebros – entérico, cardíaco e cognitivo - trazendo clareza em situações de conflito, transformando-as em enormes oportunidades para fortalecer a relação com os filhos, alunos, com a próxima geração e a relação que cada um tem consigo próprio. Esta forma de educar é uma transformação do paradigma na educação, profundamente alinhada com o desenvolvimento e nutrição de uma autoestima saudável nas crianças, e ainda com o desenvolvimento das soft skills definidas como fundamentais pelo World Economic Forum em 2020 para o trabalhador do futuro. Esta caminhada é tanto mais descomplicada quanto melhores comunicadores formos. Ou seja, quando aprender a comunicar de forma generativa, em excelência. Passos como, por exemplo, saber respeitar o direito à resposta emocional do outro, são fundamentais, até porque, a reação é comunicação que contém informação valiosa sobre as suas necessidades. Comunicar em excelência não serve para manipular as respostas do outro, nem garante que ganhemos as reações que desejávamos, mas garante que em vez de julgarmos, integramos a informação contida na reação e respondemos com empatia. Tudo isto pede maturidade de nós, adultos. Maturidade emocional que gera autorregulação para daí co-regularmos e garantirmos o sucesso da relação. A regulação emocional, como demonstram as últimas investigações na área da educação, é a chave para o são desenvolvimento de uma sociedade que se quer consciente e justa. Para transformar o mundo num lugar melhor para todos.

Queridos adultos, é preciso desaprender para ganhar espaço e aprender a fazer diferente. Não é o que dizemos, é como dizemos e sobretudo, como intencionamos e nos comportamos. É pelo exemplo que vamos!

E isto é válido para todas as relações humanas.

Quebrar as correntes

O mundo pede uma educação que quebre as correntes de sistemas e hábitos tóxicos. Hábitos assentes na força do medo, da culpa, da vergonha e do castigo como recursos habituais. Pede uma educação em que a conexão esteja em primeiro lugar, com espaço de encontro, de comunicação honesta, sincera, profunda. Com espaço seguro. É por isso, com muito carinho e curiosidade, que estarei a moderar o IX Seminário da Educação de Câmara de Lobos – Educação: Ideias e Práticas – Uma Luz para o futuro! É já nos dias 5 e 6 de maio e reúne um leque incrível de oradores nacionais e internacionais, especialistas na área da educação, que vale mesmo a pena escutar e com quem vale a pena refletir. A entrada é gratuita. Somos todos parte da solução.