Alheados do futuro
1. Disco: Gosto muito de surpresas. De andar pelo Spotify, sem destino e deparar-me com coisas como este “Blondshell”, da artista com o mesmo nome. É um trabalho soberbo. Rock do bom como já não ouvia há algum tempo. Um trabalho potente, bem realizado, que frutificará e ficará para memória futura.
2. Livro: “A Porta da Europa: Uma História da Ucrânia”, de Serhii Plokhy, é essencial para entendermos o porquê do que se passa neste país invadido, neste último acto da tentativa imperialista de uma Rússia a querer tomar um papel que, na realidade, nunca teve. Plokhy é professor de História Ucraniana e director do Harvard Ukrainian Research Institute. Deixa-nos um livro que responde a muitas das questões que podemos ter sobre este país de que pouco sabíamos antes desta guerra sem sentido onde o futuro da liberdade se decide.
3. Hoje deixo aqui algo que me acomete há algum tempo. Tem a ver com o alheamento que muitos de nós temos para com a política. No entanto, todos os dias tomamos decisões que são por ela influenciadas. A política está presente em tudo o que fazemos. Somos condicionados por ela a um nível institucional (governamental ou não), pelos média e pela informação que nos chega, pelos comportamentos dos que connosco se relacionam de alguma maneira. O facto de a maioria ser pouco dada a mudanças é, igualmente, um factor condicionante. Tudo isto influencia o nosso dia a dia, a nossa qualidade de vida, directa ou indirectamente. Gostemos ou não disso.
A maternidade é uma clara manifestação de futuro. Ninguém, a não ser a mulher, cria o vindouro. Porque futuro, a maternidade encerra um acto político. A continuidade, a perpetuação, implicam o amanhã.
É óbvio que o ser pai tem, também ele, um papel de enorme importância. Sou dos que pensam que embora ambos os papéis possam, por vezes, ser desempenhados de modo independente, a presença dos dois é importantíssima nesta construção de futuro, que representa um filho.
Daí a importância das escolhas que fazemos. Todas elas têm carácter político, por serem, mesmo podendo parar e voltar para trás alterando o decidido, determinantes.
Deixar a política fora deste processo é impossível e inaceitável. São estas evidentes construções de futuro que me levam a afirmar que é por isso que não se entende o alheamento da política, por parte de quem toma decisões políticas todos os dias.
Alguém que não precise de se importar com a política, sendo progenitor, é um privilegiado. Significa que questões como a saúde, a segurança, a estabilidade e sustentabilidade financeira e a própria existência, não dependem de decisões de terceiros; significa que a sua vida não mudará dependendo de quem manda. Isto não acontece com a esmagadora maioria de nós. No mundo há mesmo milhões de pessoas para quem a política é uma questão de vida ou de morte.
Gostemos ou não, a parentalidade é altamente afectada pela actividade política. Não sou ninguém para vir pregar moral ou modos de estar na vida. Quem sou eu para dizer, seja lá a quem for, com o que se preocupar. Faço-o como um pedido que fica à consideração de cada um, que, em consciência, deve decidir do seu empenho no que quer deixar aos seus.
O futuro dos nossos filhos depende de se nos importamos ou não. Para promover a mudança, é importante que sejamos decisivos em colocar as pessoas certas nos lugares certos, pessoas que reflictam os nossos valores e garantam o futuro dos nossos filhos, seja lá o que isso signifique.
Recusar a participação, o fazer parte, é aceitar as regras de um jogo que muitos querem disfuncional. É aceitar que as nossas opiniões sejam descartadas, que os nossos pensamentos sejam desprezados, a nossa voz silenciada. Não será chegada a altura de dizer basta? De mostrar que temos ideias? Que sabemos de onde vimos e para onde queremos ir?
Ser incómodos, questionar, querer ser parte importante e fundamental na construção do futuro que queremos. Não “comer” o que uns pseudo-iluminados mastigam por nós.
Não há mal nenhum em errar, desde que estejamos conscientes de que podemos sempre tentar de novo. É esse o caminho da maturidade, só assim crescemos e tornamos-nos melhores.
Tenhamos a coragem de reclamar, de exigir, de determinar. O futuro, o nosso destino, tem de ser o que bem-quisermos.
Não há nada mais poderoso do que a nossa vontade. Nada.
4. Bem sei que permanecemos profundamente desconfiados e insatisfeitos com a chamada classe política. Mas precisamos não esquecer que somos quem a escolhe. Seja votando, ou seja deixando de o fazer. Por participação ou por omissão, somos todos responsáveis.
É sentimento comum que o governo faz muito pouco em questões que preocupam a maioria, onde se incluem aposentados e reformados, residentes nas áreas rurais e suburbanas e a classe média.
Tudo isto faz com que tenhamos a percepção de que a confiança em quem nos governa é muito baixa. É ouvir as pessoas na rua. As opiniões que têm, o que sentem na pele.
Precisamos com urgência de esperança. Esperança no futuro. Esperança no agora. A esperança é cada vez mais essencial na acção política. Precisamos dela como de pão para a boca, para conseguirmos construir um caminho seguro e gerador de riqueza para todos.
Urge o debate sobre a sua importância, que combata o cepticismo que todos os dias conquista mais terreno.
A esperança tem a ver com o acreditar. Com o querer construir, com o confiar, com o optimismo de que o que lá vem será melhor do que o que temos.
5. O meu amigo Hugo Nóbrega, um porto-santense orgulhoso, todas as semanas deixa nas redes sociais um vídeo onde mostra o seu empenho em querer que a sua ilha esteja limpa, sem lixo espalhado por todo o lado. O Hugo é um exemplo. Pessoa empenhada, de causas, de querer. Houvesse por aí mais uns quantos como ele e seriamos muito melhores do que somos.
6. A propósito da reunião de deputados do PS com a CEO da TAP, para preparar a sua ida à CPI em Janeiro.
A CEO da TAP afirmou que o deputado do PS, Carlos Pereira, esteve na reunião pelo PS, deputado que depois esteve na audição a questionar a CEO e que agora está nesta CPI a questionar a mesma CEO. Ética socialista republicana.
Ah, Senhor Alfredo, isto é tudo um…
7. Alberto João Jardim mandou publicar o RES NON VERBA, onde estão inscritas, em 16 volumes, todas as inaugurações que fez. Do Aeroporto à lixeira do Lugar de Baixo.
Miguel Albuquerque publicará VISITATIONES ET IPSUM, onde vão constar, em 32 volumes, as visitas que faz diariamente. Do Nicko’s Burguer ao nascer do sol no Pináculo.
8. A Comissão de Inquérito à TAP na Assembleia da República ouvirá mais de 60 depoimentos. Faz lembrar umas comissões que eu cá sei…