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Está tudo bem!

Bem sei que nunca é popular ir contra a corrente mas também não me agrada o papel de velho do Restelo, que alguns colam a estes (difíceis) exercícios de gestão de caracteres mensal.

O gosto pelo pensar um pouco mais geral e para além do reino do meu pouco monárquico umbigo leva-me no entanto a um tipo de raciocínio mais preocupado, que tem certamente algo de crítico mas que não pretende nunca colocar em causa as boas intenções das decisões, antes alertando para a sua falta de amplitude.

No imediato, parece estar tudo bem! Temos oferta de transporte aéreo em barda e o modelo de promoção que nos foi imposto (porque o foi e não há que escamotear que, por vontade própria, ainda continuaríamos a funcionar como antes) parece estar a trazer os resultados desejados. Mas e o resto?

Continuo a achar que não gerimos bem a oferta de camas hoteleiras de que dispomos, levados pela pressão da construção e insistindo na lógica, errada, de estabelecimento de tectos máximos de camas (flexíveis, claro está) em detrimento do princípio do crescimento percentual máximo anual, que permita que se acomode melhor o eventual acréscimo de visitantes sem pressão excessiva sobre o produto.

Mantenho que esta “cimentização” em curso, com Dubais regionais, novas centralidades na Praia Formosa e projectos de aumento do molhe da Pontinha são incongruentes com a defesa da Natureza como produto turístico.

Reforço que o problema da escassez de recursos humanos e mais ainda dos qualificados tem pouco a ver com alterações pós-Covid mas antes com más opções ao nível da adequação dos cursos, sobretudo os profissionais e com uma incapacidade crónica em tornar as actividades relacionadas com o sector do Turismo mais dignas, mais apetecíveis e mais valorizadas socialmente.

Tudo isto entronca na preocupação maior, na tal amplitude de visão que devíamos conseguir ter e para onde tudo isto conflui: - o nosso produto turístico hoje não é igual e está pior do que há 5 ou 10 anos atrás, apesar de o vendermos mais caro do que nunca.

Não concluo isto por perdermos prémios que para mim têm pouca ou nenhuma credibilidade, mas antes pela constatação da pressão que existe em locais mais frequentados, pelo número de pessoas que se passeiam, sem o anterior conforto, pelas nossas cidades e pela perda de qualidade no serviço que prestamos, que continuo a defender ser o nosso maior activo e o grande factor de diferenciação.

Falta participação dos profissionais e daqueles que deviam contribuir para pensar mais geral, que se acomodam no conforto do silêncio e das vozes críticas de alguns terceiros. Falta capacidade de aceitação de visões diferentes, que se desvalorizam muitas vezes em exercícios tristes de falta de respeito e de educação. Falta muita coisa e, temo, sobretudo capacidade para reverter decisões erradas.

Mas como está tudo bem e os números são espectaculares, resta-me deixar-vos os votos de uma Boa Páscoa…