Velhos, úteis e indispensáveis
1. Quem fica sem emprego a partir dos 50 anos costuma dizer que é “muito novo para a reforma e muito velho para arranjar trabalho”. A frase fez jurisprudência e é o retrato de uma sociedade que conserva muitos estereótipos em relação aos mais velhos. Um estudo da Organização Mundial de Saúde sobre o idadismo revelou que uma em cada duas pessoas tem atitudes discriminatórias em relação aos mais velhos e, na Europa, uma em cada três diz ter sido vítima de discriminação com base na idade.
Veja-se tudo o que se diz e escreve sobre o idoso que comanda o país mais poderoso do Mundo. Joe Biden foi eleito presidente, pela primeira vez, aos 78 anos. Tem agora 80 e apesar de ser o político norte-americano mais experimentado no activo é constantemente alvo de bullying por causa da sua idade avançada. Biden já cometeu um erro clamoroso motivado pela força dos anos? Que se saiba, não. Como presidente dos Estados Unidos da América e numa época de grande instabilidade mundial, deixa-nos muito mais descansados do que se fosse um radical do Partido Republicano a ocupar o cargo. Apesar da verdade confirmada por factos, durante a campanha eleitoral tentaram vender a ideia de que Joe Biden estaria com demência, que não se recordava do nome dos filhos e que caía diversas vezes ao longo do dia. Nada disso foi comprovado e ele deverá lançar-se para mais uma corrida à Casa Branca. Caso isso se confirme terá 82 anos.
Em Portugal um dos papas da cirurgia pediátrica, António Gentil Martins, dizia que enquanto a mente se mantivesse sã e as mãos não tremessem continuaria a ajudar quem o procurasse. Ia a caminho dos 90.
Outro exemplo: o Papa Francisco, uma verdadeira lufada de ar fresco nesta Igreja Católica, a braços com uma crise titânica motivada pelo escândalo dos abusos sexuais de menores, tem 86 anos. Lúcidos, activos e pragmáticos. Tem um problema de locomoção? Quantos não o têm com metade da sua idade. Muitos outros exemplos poderia aqui invocar, dentro e fora do País, para provar que a idade não é um óbice para a realização de um bom trabalho. Há sim um estigma cristalizado por uma sociedade formatada para o deslumbre da juventude eterna. Ou não será a experiência uma mais-valia em qualquer função? Rui Nabeiro trabalhou até ao fim com uma energia contagiante e uma mestria inquestionável. Ninguém relacionou a sua idade com nenhum fracasso empresarial do gigante Grupo Delta.
O Mundo não é só dos jovens, como se eternizou. É também dos menos jovens e dos velhos, que podem ter a infelicidade de adoecer e de se tornarem incapazes, como podem estar de perfeita saúde e em óptima forma, podendo contribuir para a resolução de muitos problemas e impasses. Para esses as portas deveriam estar permanentemente abertas, livres de complexos etários inconcebíveis. As empresas deveriam ser estimuladas e receber incentivos fiscais para contratarem trabalhadores mais velhos. O Estado deveria lançar a iniciativa. É um crime não se aproveitar o manancial de sabedoria que muitos idosos acabam por guardar para si até a morte. E é também um crime existirem milhares à sua sorte, sem qualquer tipo de protecção, vendo-se forçados a acabar os dias em lares impessoais, distantes e com falta de condições.
Urge uma mudança cultural em toda a linha, não estivéssemos inseridos numa sociedade cada vez mais envelhecida e onde a natalidade mantém uma queda assustadora. A procura por lares não deverá andar longe da procura por creches.
Em vez de compaixão deveremos estimular os idosos e colocá-los onde são mais precisos. A Saúde é uma dessas áreas. A Educação também. As políticas de longevidade não podem centrar-se apenas na cobertura da rede de cuidados continuados, no aumento das camas nos lares. Mude-se de paradigma e os resultados surgirão a prazo.
2. André Barreto é um jovem de 16 anos e é presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Machico. Em entrevista ao DIÁRIO lançou um alerta importante e preocupante, que merece atenção das entidades públicas. Todas as semanas há jovens daquele estabelecimento de ensino a recorrerem aos serviços médicos por motivos de ansiedade. A psicóloga colocada na escola não tem mãos a medir e o agravamento dos sintomas leva os alunos a procurar ajuda no exterior.
A questão da saúde mental na comunidade escolar, com todas as implicações que daí advêm, tem de ser encarada como uma prioridade. Numa sociedade repentista, focada na competição individual e na procura de sucesso imediato, os jovens são um grupo especialmente vulnerável.
O grito dos mais novos tem de ser atendido e valorizado, os conteúdos educativos têm de ser alterados, os currículos actualizados. É que eles estão a ser sujeitos a uma pressão inadmissível se querem, por exemplo, entrar num designado curso de excelência. E este é apenas um dos motivos. Há mais.