Fact Check Madeira

Será verdade que o Governo Regional comprou um barco não tripulado por 3 milhões de euros?

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A Madeira vai passar a dispor, até ao final deste ano, de um barco não tripulado para recolha de dados hidrográficos, oceanográficos e meteorológicos com capacidade para atingir, de forma autónoma e com navegação controlada à distância, às várias parcelas de território do arquipélago, incluindo as Selvagens. Será mesmo assim?

De facto, a Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação (ARDITI), entidade tutelada pela Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia, assinou, na passada sexta-feira, um contrato com a empresa francesa iXblue para a compra de um veículo autónomo de superfície não tripulado (USV-Unmanned Surface Vehicle), pelo valor de quase 3,4 milhões de euros (IVA incluído). O barco, que deverá ser entregue nos próximos nove meses, estará equipado com sensores hidrográficos, oceanográficos e meteorológicos com a finalidade de recolha sistemática de dados na Zona Económica Exclusiva (ZEE) da Região Autónoma da Madeira.

O concurso para a aquisição, lançado logo no início deste ano, estipulava que este barco devia ser equipamento com tecnologia versátil, robusta, já testada, pronta a usar, capaz de operar de forma remota, semi-autónoma, entre 5 a 10 dias sem reabastecer, para além da linha de vista (horizonte), com suporte técnico 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano.  Devia ainda ter capacidade para acomodar a instalação de sensores de forma a permitir diferentes tipos de missões.

Ora o único veículo da iXblue que corresponde a estes requisitos é o DriX, descrito como um ‘drone’ marítimo, que foi apresentado em 2017 e que entrou em Março de 2022 em fase de produção avançada. Já há cerca de 20 embarcações deste modelo em operação em todo o Mundo, tendo sido adquiridas pelos americanos da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), pelo British Antarctic Survey (BAS), pela Marinha da Polónia, pelo Instituto Hidrográfico Francês, pelo Instituto Francês de Pesquisa e Exploração Oceanográfica (Ifremer), bem como por entidades e empresas da área da energia como a TotalEnergies, a Ocean Infinity, a Sulmara e empresas de aluguer de equipamentos como a Unique ou a WAMS.

O DriX madeirense ficará baseado nas instalações do Observatório Oceânico da Madeira, estrutura integrada na ARDITI, na zona do varadouro de São Lázaro, ao lado da marina do Funchal. Na inauguração desta base operacional, a 12 de Julho de 2022, o director da ARDITI, Rui Caldeira, afirmou que os meios da base operacional seriam utilizados para a recolha de dados e informações e proporcionar um melhor conhecimento do mar do arquipélago. A ideia passa por “garantir a permanência no mar em cerca de 120 a 150 dias por ano” e “mapear os recursos e possibilitar depois a gestão sustentável” e melhor aproveitamento dos mesmos.

O contrato assinado na sexta-feira abrange, além do fornecimento do ‘drone marítimo’, a prestação de serviços de formação a pelo menos quatro elementos para operação e manutenção do veículo e dos seus sensores. A formação a ministrar deve abordar temas como a arquitectura do veículo, o funcionamento do circuito eléctrico, do sistema mecânico, dos equipamentos de telecomunicações, das câmaras e do LiDAR (sistema de detecção de distâncias com recurso a laser), dos sensores internos e externos, do sistema de controlo remoto, da pilotagem do veículo (com ou sem contacto visual), a colocação do veículo no mar a partir de terra ou de um navio-mãe e as manutenções periódicas do motor e do casco. A empresa francesa tem de assegurar a continuidade de construção e fornecimento de peças, componentes e equipamentos para este modelo pelo prazo de 10 anos.

Antes da entrega do barco, representantes da ARDITI vão acompanhar a realização de testes de conformidade no mar no local de fabrico e construção, provas, inspecções e verificações com vista à aceitação da unidade. Uma missão de acompanhamento vai deslocar-se às instalações da empresa em França para acompanhar a construção do veículo.

Uma entidade tutelada pela Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia adquiriu um veículo autónomo de superfície não tripulado para investigação científica e com capacidade para se deslocar, de forma autónoma e com navegação controlada à distância, até às ilhas Selvagens.