Entrevista à Playboy de membro do Governo gera polémica e discussão em França
Isabelle Rome, ministra francesa responsável pela igualdade entre mulheres e homens, criticou hoje a decisão da sua colega de Governo, Marlène Schiappa, em aparecer na revista Playboy, considerando que representa uma "condensação de todos os estereótipos sexistas".
"Questiono-me: por que escolheu a Playboy para promover os direitos das mulheres quando esta revista é um compêndio de todos os estereótipos sexistas?", sublinhou Rome em declarações ao jornal Le Figaro.
A ex-secretária de Estado para a Igualdade entre Mulheres e Homens (2017-2020), Marlène Schiappa, atualmente responsável pela Economia Social e Solidária, concedeu uma entrevista à edição da Playboy que será publicada esta quinta-feira, onde posa na capa com um longo vestido branco.
Ao longo das páginas, utilizando uma insígnia ou bandeira francesa, a governante posa com vários 'looks', inclusive com um vestido justo da marca "Maison Close".
Na entrevista, Schiappa defende o direito das mulheres fazerem "exatamente o que querem".
"Se elas se querem vestir como freiras e nunca conhecer homens, a escolha é delas, e temos que apoiá-las. Se elas querem posar nuas numa revista também. Embora, no que me diz respeito, estarei vestida", sublinhou a secretária de Estado.
Schiappa afirma "ser direta" e diz-se "orgulhosa" de ter escrito literatura erótica, "um universo em que se respeita muito o consentimento".
À Playboy, Marlène Schiappa responde a perguntas pouco convencionais, como "a política é um afrodisíaco?", sublinhando que a luta política traz "adrenalina".
A governante francesa também confidencia que "obviamente e como muitas mulheres" sofreu comportamentos inadequados dos homens, mas destaca que "muitos homens são bons rapazes".
A publicação anunciada desta entrevista gerou uma fortes críticas contra Schiappa na semana passada, inclusive da primeira-ministra Elisabeth Borne, que considerou esta iniciativa "nada apropriada, ainda mais no período atual", de agitação social devido à polémica reforma das pensões.
Isabelle Rome defendeu hoje que "quando se é ministro, deve-se ter sentido de responsabilidade".
"Fingir que posar na Playboy vai promover a liberdade das mulheres, duvido muito. A dela, talvez. A dos outros, não", frisou a ministra da Igualdade, para quem "defender os direitos das mulheres na Playboy significa lutar contra o antissemitismo concedendo uma entrevista ao Rivarol", semanário de extrema-direita.
"Lembro que o seu fundador, Hugh Hefner, foi processado por agressão sexual. Em algum momento, é necessário escolher os 'media'", acrescentou Rome, lamentando que este episódio faça "grande publicidade" à Playboy, uma revista que, para a ministra, não será nunca um aliado das mulheres.