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Há razões para continuar a lutar

Ao contrário do que muita gente pensa, e apregoa, há sempre razões para quem trabalha continuar a estar atento aos seus direitos, e quando os mesmos não são cumpridos, o único caminho a seguir é não ter vergonha de reivindicar e lutar.

Foi assim há muito tempo atrás, quando se deram as primeiras lutas que vieram a dar origem ao 1.º de Maio, como o Dia do Trabalhador.

Foi assim que, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, que o 1.º de Maio começou a ser comemorado, em Portugal. Na Madeira, foi no grande 1.º de Maio de 1974 que verdadeiramente nos chegou a liberdade de nos manifestarmos e de sairmos para a rua reivindicar tudo o que estava entalado, há muito tempo, com o fascismo a controlar quem já tinha alguma consciência e que lutava clandestinamente, para não ser preso e torturado.

O 1.º de Maio na Madeira, a partir dessa altura, acabou sempre por ser comemorado, sobretudo pelos sindicatos representativos de quem trabalha, ou já trabalhou, com a União dos Sindicatos a organizar as comemorações. Podem fazer-se as festas que quiserem, mas só quem representa de verdade quem trabalha é que tem a legitimidade de falar em comemorar o nosso dia. O resto são complementos e distrações que não fazem mal a ninguém, pois tudo o que vier por bem, é bem-vindo, desde que não retire o verdadeiro significado deste dia, que é sobretudo de luta e reivindicação.

Há pessoas que não gostam das palavras luta e reivindicação, mas se estas têm realmente valor é neste dia porque vivemos situações muito graves no mundo laboral, onde continuam a predominar enormes discriminações, em todos os sentidos, sendo as mais graves de todas a precariedade do trabalho e a falta de segurança, assim como a discriminação salarial entre homens e mulheres, mesmo fazendo as mesmas funções.

As lutas em curso, nomeadamente a do sector docente, mostram-nos a gravidade da discriminação existente, sendo o Estado o patrão, por isso mesmo, o seu maior responsável. Se o Estado age assim é um péssimo exemplo para o sector privado que, na sua maioria, usa quem trabalha ao seu serviço como carga descartável, abusando muitas vezes do seu papel de poder, para humilhar e maltratar, exigindo, mas não valorizando, quem passa 8 horas do seu dia a dar o seu melhor ao serviço da empresa, a que muitas vezes “carinhosamente” chamam sua. Claro que há exceções. Mas como eu já disse várias vezes, “elas” só existem porque as regras não são cumpridas por muita gente.

A morte de um jovem trabalhador indiano no Parque Ecológico do Funchal, que trabalhava para o Município através de uma subcontratação sem segurança no trabalho, deve fazer os responsáveis autárquicos pensar se estão a agir bem com essas subcontratações de empresas que só querem explorar ao máximo quem trabalha, sem assegurar um contrato legal, com todas as condições que a lei exige.

Comemoramos este ano os 49 anos do 1.º de Maio em Liberdade. Para quem tem menos do que esta idade, talvez considere que estas coisas de dias da liberdade, e do trabalhador, são evocações antigas, que já não fazem sentido, e preferem ir para a praia ou passear com a família, e não se preocupam com as comemorações. Sempre houve pessoas que pensaram assim. A essas eu sempre respondi, e volto a afirmar hoje, se tivermos consciência há tempo para tudo. Quanto melhores forem as condições de trabalho, melhor será a vida familiar e pessoal. Então vamos dignificar as nossas comemorações. VIVA O 1.º DE MAIO!