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Suspeita admite transporte de bomba que matou 'blogger' pró-russo e Kremlin acusa Ucrânia

Darya Tryopova
Darya Tryopova, Foto  EPA/RUSSIAN INTERNAL AFFAIRS MINISTRY PRESS SERVICE

Uma jovem detida hoje na Rússia admitiu ter trazido o dispositivo explosivo que matou domingo um 'blogger" militar pró-russo em São Petersburgo, atentado que Moscovo atribui aos serviços secretos ucranianos, com a cumplicidade de apoiantes do opositor Alexei Navalny.

"Trouxe uma estatueta que explodiu" num café em São Petersburgo, cerca de 700 quilómetros a noroeste de Moscovo, assumiu a jovem, identificada como Darya Tryopova, num vídeo publicado hoje após ter sido detida por elementos do Ministério do Interior russo, desconhecendo-se se a confissão foi feita sob coação.

Questionada pela polícia sobre quem lhe entregou a bomba, Darya Tryopova, que os investigadores apresentaram como uma cidadã russa e ativista do Fundo Anticorrupção de Navalny, ilegalizado na Rússia desde 2021, respondeu que explicaria isso "mais tarde", segundo reportou a agência noticiosa France-Presse (AFP).

As autoridades russas tinham anunciado pouco antes a detenção de uma jovem suspeita do ataque à bomba que matou no domingo em São Petersburgo o 'blogger' militar russo Vladlen Tatarsky, que discursava numa conferência de uma organização chamada "Cyber Z Front", favorável à ofensiva militar das forças russas na Ucrânia.

A explosão feriu mais de 32 pessoas, oito delas em estado grave.

Moscovo acusou a Ucrânia pelo atentado, denunciando ainda que o ataque contou com a cumplicidade de apoiantes de Alexei Navalny, principal opositor do Presidente russo, Vladimir Putin.

Navalny, detido há mais de dois anos, cumpre uma pena de prisão de nove anos por fraude, estando também envolvido num outro processo judicial por extremismo político.

"[O ataque] foi planeado pelos serviços secretos da Ucrânia, que recrutaram agentes entre os que colaboram com o chamado Fundo Anticorrupção Navalny", garantiu hoje o Comité Antiterrorista da Rússia.

O porta-voz do Presidente russo denunciou, por sua vez, "um ato de terrorismo".

No domingo, numa declaração publicada na rede social Twitter, um funcionário da Presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, negou qualquer envolvimento da Ucrânia no atentado, sublinhando acreditar tratar-se de um ato de "terrorismo interno" face às rivalidades prevalecentes dentro do regime russo.

Após as acusações contra a organização de Navalny, uma porta-voz da Presidência ucraniana, Kira Iarmych, denunciou que se trata de uma farsa criada pelo Kremlin (Presidência russa).

"Alexei será julgado em breve por extremismo, arrisca 35 anos [de prisão]. O Kremlin pensou: é ótimo para o futuro poder somar a acusação de 'terrorismo'", escreveu Iarmych também no Twitter.

A Rússia está a reprimir, segundo a AFP, "impiedosamente" os críticos de Putin, sobretudo aqueles que estão contra a intervenção militar na Ucrânia.

Segundo a agência noticiosa estatal russa TASS, a jovem detida era conhecida dos tribunais por ter estado presa durante dez dias depois de se manifestar contra a ofensiva militar russa na Ucrânia.

O café atingido pertence ao líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, que, já hoje, escreveu na rede social Telegram que confiou o estabelecimento à "Frente Cyber Z".

O ataque de domingo lembra aquele em que Daria Douguina, fervorosa defensora da ofensiva contra a Ucrânia e filha do autor ultranacionalista Alexander Dougin, morreu em agosto passado. A Rússia acusou então Kiev, que negou qualquer envolvimento.

Segundo a AFP, as declarações de Yevgeny Prigozhin sobre os acontecimentos de domingo parecem querer descartar qualquer responsabilidade dos serviços secretos ucranianos.

"Não vou acusar o regime de Kiev por esses atos. Acho que está em ação um grupo de radicais", disse Yevgeny Prigozhin no canal do Grupo Wagner na plataforma Telegram.

No domingo à noite, Prigozhin prestou uma homenagem ao 'blogger' num vídeo aparentemente filmado na cidade de Bakhmut, epicentro dos combates no leste da Ucrânia.

O 'blogger' Vladlen Tatarsky, 40 anos, era natural do Donbass, região do leste da Ucrânia que está também no centro do conflito.

Tatarsky, que se deslocava com frequência à frente de combate do lado russo, tinha mais de meio milhão de seguidores no seu canal na plataforma Telegram.

Segundo a imprensa russa, Tatarsky tinha sido preso na Ucrânia em 2011, aparentemente por um assalto, sem que tivessem sido avançadas mais informações.

Em 2014, na sequência dos confrontos desencadeados no leste da Ucrânia por separatistas liderados por Moscovo, o 'blogger' conseguiu fugir da prisão para se juntar aos combatentes.

Em 2019, Tatarsky deixou as forças separatistas, segundo o diário Kommersant, para se destacar, a partir daí, como 'blogger'.

Em setembro de 2022, numa receção no Kremlin, Tatarsky comemorou de forma efusiva a anexação unilateral de quatro regiões ucranianas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia) com palavras que, contudo, chocaram os presentes.

"Vamos derrotar todos, vamos matar todos, vamos roubar todas as pessoas de que precisamos, tudo será como queremos", afirmou então perante as câmaras.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).