Pensar dá trabalho
O mesquinho fala do que não sabe, comenta o que não lê e critica o que não compra
Somos capazes do melhor e do pior, de gestos que nos enchem de orgulho e de posturas provincianas merecedoras de reparo público.
É de ter orgulho nos madeirenses que trabalham sem olhar para o relógio. Que têm mérito reconhecido e são distinguidos e citados. Que põem a competência ao serviço do bem comum. Que nos promovem com a sua arte e saber nos diversos palcos nacionais e internacionais. E que são solidários quando é necessário. A este nível temos exemplos de sobra, um deles bem recente. É tão gratificante saber que o Gabriel Camacho voltou a andar com a ajuda de vários conterrâneos nossos. O menino diagnosticado aos 5 anos com doença rara deixou as muletas há um mês. A generosidade permitiu angariar dinheiro para a operação que lhe devolveu a mobilidade. “Só falta correr”, confidenciou no DIÁRIO, sem esquecer o martírio que acabou em final feliz.
Somos grandes quando queremos. Mas infelizmente há um outro lado, que não sendo expressivo é crescente, à boleia do reles anonimato, das centrais de desinformação e das redes que se especializaram em deturpar factos optando por narrativas assentes em alegadas opiniões.
É de ter pena dos madeirenses que cultivam os discursos de ódio, que não toleram o “pluralismo que é crucial e faz parte da essência da democracia”, aliás sublinhado pelo Presidente da República no último 25 de Abril, que denotam inveja inexplicável, que se contentam com banalidades e revelam pequenez na ambição.
Os críticos de quase tudo o que mexe, os que nivelam por baixo e os que os que convivem mal com a diversidade devem questionar-se. Numa Região turística em alta, com recordes obtidos à custa de muito trabalho promocional, mas sempre ávida de notoriedade e de melhor capacidade de atracção das grandes marcas internacionais, ter um evento como o que trouxe 20 Ferraris devia ser motivo de regozijo e de gratidão. Mesmo assim houve quem tentasse denegrir os proprietários dos bólides e organizadores do evento que promoveu a ilha e que vai contagiar outras marcas de luxo. Esta gente mesquinha fala do que não sabe, comenta o que não lê e critica o que não compra. Oxalá não se arrependa quando já for tarde, quando olhar à sua volta e estiver entregue à sua sorte.
A alguns falta mundo que ajuda a relativizar a intriga e a ver para além do óbvio, o que é estranho numa terra com tradição na arte de bem receber e na emigração bem sucedida, globalização sem reflexo nos comportamentos reprováveis. A outros começa a faltar pachorra para a mentira compulsiva, os estigmas ensaiados e o palpite orquestrado. Que a todos não falte a educação para o pensamento crítico e para o discernimento. E a este nível cabe aos meios de comunicação social e aos jornalistas fazer a diferença e dar o exemplo, liderando projectos de literacia mediática na comunidade onde se inserem, em parceria com quem estiver disponível para saber mais e para a partilha, honrando direitos e deveres plasmados nos códigos deontológicos e de conduta e assumindo que a missão informativa é mais do que uma profissão, antes uma dádiva intensa à democracia, ao dotar os cidadãos das ferramentas necessárias para que possam fazer, em cada instante, escolhas mais conscientes e menos emocionais.