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Turismo: Diversificar ao invés de proibir

Estamos ainda longe de atingir o potencial turístico quer do País quer da Região

Sendo o principal motor da economia nacional e, muito particularmente, da Região Autónoma da Madeira, o sector do Turismo assume hoje uma relevância acrescida na recuperação económica pós-Covid. Apesar de muito abalados pela pandemia, a vitalidade e resiliência dos agentes deste ecossistema está bem presente nas taxas de crescimento registadas em 2021 e 2022, o que permitiu a muitas regiões atingirem patamares iguais ou superiores a 2019.

Este crescimento, salutar e importante para o desenvolvimento económico, é responsável por fenómenos que, à partida, podem ser menos positivos, como o turismo de massas.

É um problema que, em meu entender, não se combate com restrições à entrada de visitantes, até porque corremos sérios riscos de, ao tentar encontrar uma solução, criar um problema bem maior e destruir um sector vital para o nosso desenvolvimento. Por outro lado, instrumentos como as taxas turísticas, muito em voga nos anos mais recentes, poderão ser uma importante fonte de receita, mas continuo com sérias dúvidas se serão a ferramenta adequada para evitar a massificação.

Há já vários anos que os eurodeputados no Parlamento Europeu reclamam por uma Agência ou Observatório europeu para o Turismo, com funções específicas na recolha, tratamento e distribuição de dados para este ecossistema. Com dados de qualidade e fornecidos a baixo custo, a indústria e as entidades reguladoras poderiam criar sistemas de inteligência artificial capazes de gerir fluxos turísticos, encaminhando os visitantes para zonas e regiões menos conhecidas, evitando-se aglomerações e otimizando a experiência de quem nos visita.

Constituído maioritariamente por micro, pequenas e médias empresas, esta indústria tem dificuldade em fazer essa recolha e tratamento de informação que, sendo de qualidade, é cara e apenas acessível a alguns, criando as distorções conhecidas. As próprias autoridades reguladoras, sejam nacionais ou regionais, têm dificuldade na tomada de decisão e definição de políticas, sendo por isso muito difícil lidar com o turismo massificado, que se concentra nos principais e mais conhecidos polos de atração.

A Madeira, no período pós-pandemia e com novas companhias aéreas a chegarem ao aeroporto Cristiano Ronaldo é um exemplo claro de um fluxo importante de turistas que acaba por se concentrar nos principais pontos de referência. Com dados consistentes sobre estes fluxos seria possível desenhar modelos de inteligência para a sua gestão, evitando-se a rotura de meios e permitindo um fluir de visitantes pelos vários pontos de interesse, diversificando a oferta e a procura – como a questão dos serviços de rent-a-car e de táxis.

Tal como proibir o Alojamento Local não vai resolver os problemas de habitação em Portugal, apenas destruir um sector que muito contribuiu para a reconversão e modernização dos centros históricos - anteriormente muito degradados - e para o aumento da capacidade hoteleira nacional… restringir a entrada de turistas em regiões pontualmente lotadas não resolve o problema do turismo de massas.

Estamos ainda longe de atingir o potencial turístico quer do País quer da Região. Existem pontos de congestionamento, é verdade, mas a solução tem de passar por essa tal gestão inteligente. A tecnologia existe, a informação precisa ser recolhida, tratada e posta ao serviço dos agentes da indústria, sendo que para isso também existem recursos financeiros e o Plano de Recuperação e Resiliência está aí para ser implementado, e com urgência até 2026, sendo que 20% deve ser alocado à transição digital.

Não embarquemos numa abordagem de constrangimentos e proibições, mas sim no empenho de todos: público, privado e população para continuar a garantir, não apenas o que é intrínseco aos madeirenses – a arte de saber receber – mas ter uma oferta de produtos e serviços que primam pela qualidade.