Indicadores de endogamia académica também abrangem Universidade da Madeira
O termo não é familiar à maioria das pessoas, mas segundo o relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), o conceito de endogamia académica pode ser interpretado “como o recrutamento/contratação de docentes doutorados pela mesma instituição de ensino superior que lhes atribuiu o grau”. No estudo desenvolvido por essa Direcção-Geral, o conceito foi operacionalizado “através de um indicador simples: a percentagem de docentes doutorados que obtiveram o seu doutoramento na mesma instituição de ensino superior onde leccionam”.
Conforme foi noticiado a nível nacional, os dados apresentados no estudo, referentes ao ano lectivo 2021-2022, indicam que 68% dos docentes doutorados obteve o seu grau de doutor na mesma instituição de ensino superior em que lecciona actualmente. A universidade com o valor mais elevado foi a de Coimbra (78%), com 100% na Faculdade de Direito e 99% na de Medicina. A Faculdade de Direito e a Faculdade de Motricidade Humana (99%) e a Faculdade de Belas-Artes (95%) da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Desporto (98%), a Faculdade de Medicina Dentária (95%) e a Faculdade de Medicina (91%) da Universidade do Porto, são outros exemplos que apresentam valores bem acima da média nacional.
E na Madeira?
Ora, a plataforma 'ET AL' da Associação Académica da Madeira fez as contas e indica que, na Universidade da Madeira (UMa), o valor apurado em 2021-2022, foi de 45% dos docentes doutorados com o seu grau de doutor obtido na UMa. Tal como noutras Instituições de Ensino Superior (IES), essa percentagem é referente a apenas três categorias de docente universitário: professor catedrático, professor associado e professor auxiliar.
O relatório deixou de fora “as tipologias de pessoal especialmente contratado como professores visitantes, professores convidados, assistentes convidados, leitores e monitores”. Esse valor (45%) era de 48% em 2015-2016.
"O valor apurado de 68% revela uma pequena redução face aos 70% apurados em 2015-2016. Em 2021-2022, a UMa reportou 141 docentes doutorados nas referidas categorias, quando havia 135 em 2015-2016. Enquanto a média nacional de docentes doutorados em IES estrangeiras foi de 19%, a mesma de 2015-2016, na universidade madeirense o valor registado foi de 23%. A Universidade do Algarve possui o valor mais elevado no país (27%)", salienta.
À 'ET AL', Joaquim Pinheiro, presidente da Faculdade de Artes e Humanidades (FAH), entende que os valores apurados na sua unidade orgânica são normais: “Uma vez que uma parte significativa do nosso corpo docente, nomeadamente quem tem mais de 50 anos, esteve na fundação da Universidade e fez o seu doutoramento aqui”.
Analisando três departamentos da faculdade, o seu presidente refere que, apenas no Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, a “maioria significativa de docentes” fez o doutoramento na UMa. No Departamento de Psicologia, “dos 10 docentes a tempo integral, quatro fizeram o doutoramento na UMa; no Departamento de Arte e Design, dos 12 docentes a tempo integral, apenas um realizou o doutoramento na UMa”.
Com as aposentações recentes e as suas substituições, nenhum dos docentes doutorados contratados a tempo integral realizou o doutoramento na UMa. Isto significa que, num prazo de cinco a seis anos, estaremos na FAH com uma percentagem abaixo dos 40%. Joaquim Pinheiro, sobre o Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas
Sobre a endogamia académica, refere que se trata de um problema quando “estiver associada a favorecimento e não a mérito”.
É preciso muita cautela na análise dos dados e na comparação entre instituições. Considero que os dados estariam mais completos se nos indicassem, por exemplo, as faixas etárias dos docentes. Joaquim Pinheiro, em declarações à 'ET AL'