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TAP foi sempre utilizada para interesses individuais independentemente dos governos

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O presidente do sindicato de tripulantes de cabine afirmou hoje que a TAP foi sempre utilizada para interesses individuais, independentemente dos governos, sendo vista como "trampolim" ou forma de ganhar notoriedade política.

"Independentemente de quem está no governo, [a TAP] foi sempre utilizada para interesses individuais e não coletivos, sempre foi vista como um trampolim, ou maneira de notar-se politicamente e isto tem impacto, porque tomaram-se decisões erradas", defendeu o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Ricardo Penarróias, na comissão de inquérito à companhia aérea.

E insistiu: "Privatização, nacionalização, foi tudo mal feito e quem está a pagar são os trabalhadores do grupo TAP e também os passageiros".

Já questionado pela deputada bloquista Mariana Mortágua sobre as concorrentes de baixo custo, Ricardo Penarróias reiterou que "a Ryanair não cumpre a lei portuguesa" e "opera ilegalmente em Portugal" e é por isso que é competitiva em relação à TAP.

"Pergunto, que alguém tenha a honestidade nos afirmar quanto é que o contribuinte do Porto paga para ter a Ryanair. Pagam para a Ryanair estar em Portugal. Para estar em Faro, quanto é que o Turismo do Algarve paga?", questionou o presidente do sindicato.

O dirigente do SNPVAC defendeu que há mercado para a TAP naqueles aeroportos, mas admitiu que, ao contrário da gestão privada, houve uma mudança de política depois do regresso ao controlo do Estado, que desvalorizou o aeroporto do Porto.

Ainda durante a inquirição pelo deputado do Chega, Ricardo Penarróias foi questionado sobre a contratação, em dezembro de 2022, de Karolina Tiba como nova gestora para a área de tripulantes de cabina.

"Gostaria de falar muito, mas a verdade é que nunca tive contacto com ela. Aquilo que me disseram é que ela já nem está na TAP", começou por responder.

Segundo o sindicalista, este é um caso que se insere naquilo que apelidou de "diretores fantasma", reiterando "desconhecimento total" sobre esta responsável com quem nunca falou nem da qual teve qualquer "comunicação interna", inclusivamente durante as negociações no período em que havia um pré-aviso de greve em cima da mesa.

Quanto à próxima privatização, Penarróias defendeu que o melhor para o país é que a companhia seja comparada por outra cujo 'hub' esteja o mais longe possível de Portugal, ou seja, para o sindicalista é mais favorável uma venda à Lufthansa, que tem 'hub' em Frankfurt, na Alemanha, do que à Ibéria, cujo 'hub' é em Madrid, Espanha.

O presidente do SNPVAC sublinhou que "a participação dos trabalhadores neste processo é fundamental".

O comunicado de 19 de janeiro, antes da assembleia geral do SNPVAC, no qual o ministro das Infraestruturas, João Galamba, se mostrou convicto de que os tripulantes da TAP iriam dar o seu aval à proposta apresentada pela administração da companhia, evitando uma greve naquele mês, também foi trazido a esta audição.

Ricardo Penarróias assegurou que "nunca foi transmitido ao senhor ministro que o assunto estava resolvido" porque "quem decide ou não a desconvocação de uma greve são os associados em assembleia geral".

"Afirmámos várias vezes que a proposta era insuficiente e como tal era muito difícil que ela passasse", referiu, admitindo que João Galamba pudesse ter algum "desconhecimento da realidade TAP", uma vez que "estava há pouco tempo no cargo".

O sindicalista assumiu que lhe deu "um trabalho imenso" para desmontar esta questão e afirmou: "Felizmente conseguimos conter esse lapso".

Ainda questionado sobre a ligação que a TAP ainda mantém com a Azul, do empresário brasileiro David Neeleman, também ex-acionista da TAP, Ricardo Penarróias apontou a "falta de transparência" de vários negócios, como a passagem do 'slot' (faixa horária) Lisboa-Campinas, que a TAP tinha, para a Azul.

Para o responsável sindical, é importante perceber como foi feita essa transição, bem como quanto custou à TAP, uma vez que a Azul até intensificou a operação naquele aeroporto, onde tem o 'hub', tornando-se concorrente da TAP, que voa para São Paulo, que fica a curta distância.

"O privado teve mérito nalgumas questões, mas há muita falta de transparência, muito negócio que fomos descobrindo aos poucos e, lamentavelmente, hoje os trabalhadores do grupo TAP pagam essa fatura", defendeu Penarróias.