Sánchez saúda esforço de paz de Lula da Silva mas sublinha que há um povo agredido
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, agradeceu hoje ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, os esforços para chegar à paz na Ucrânia, mas sublinhou que não se pode esquecer que há um agressor e um agredido no conflito.
"Quero agradecer ao Presidente Lula o seu envolvimento nesta questão porque sentiu-se a falta nestes últimos anos do envolvimento e do compromisso nos assuntos globais por parte do Brasil", disse o líder do Governo espanhol, em Madrid, numa conferência de imprensa ao lado do chefe de Estado brasileiro.
Sánchez disse que Espanha e Brasil "desejam o mesmo, a paz" e para haver uma paz "duradoura e justa é importante o envolvimento de todos", mas "sem esquecer que nesta guerra há um agressor e um agredido".
"O agressor é [o Presidente da Rússia, Vladimir] Putin e o agredido é um povo, o ucraniano, que a única coisa que faz é lutar pela sua integridade territorial, pela sua soberania nacional e pela sua liberdade", afirmou.
O líder do Governo espanhol defendeu que "é fundamental que a voz do país agredido" seja ouvida "em primeira pessoa" e que "seja levada em conta a sua fórmula para a paz".
Sánchez ressalvou que o Brasil sempre condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, "e portanto sempre defendeu a integridade territorial da Ucrânia".
"Depois, poderemos ter matizes, e eu tenho-os em relação a algumas coisas que disse o Presidente Lula da Silva", disse Sánchez.
O primeiro-ministro espanhol destacou que "o Brasil é uma potência global" e não é possível responder a desafios globais, como as alterações climáticas ou conflitos internacionais, sem o envolvimento do governo brasileiro, antes de voltar a saudar os esforços de Lula da Silva para ser criado um grupo de países que consiga ser mediador para um processo de paz na Ucrânia.
Pedro Sánchez e Luis Inácio Lula da Silva reuniram-se hoje em Madrid e no final do encontro, na mesma conferência de imprensa, o Presidente brasileiro voltou a ser questionado, como aconteceu nos últimos dias, sobre as suas posições em relação à Ucrânia.
Lula da Silva disse uma vez mais que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas que não ouve "ninguém falar da paz", assegurou que vai continuar a fazer contactos com líderes internacionais para tentar constituir um grupo de mediadores, e repetiu críticas às Nações Unidas e à composição do Conselho de Segurança da ONU.
"Não é o facto de você ser contra ou a favor da guerra, todos nós somos contra a guerra. Mas a guerra já começou e eu acho que a condução da discussão sobre a guerra está errada. A ONU que me perdoe, a ONU já poderia ter convocado algumas sessões extraordinárias com todos os países-membros para discutir a guerra. Por que é que não fez isso?", afirmou.
O Presidente brasileiro reiterou que entende a posição da Europa em relação à guerra na Ucrânia "porque a Europa está no continente em que está a guerra".
"Obviamente que a preocupação dos países europeus é diferente da minha preocupação, que estou a 14 mil quilómetros de distância, é diferente. E por isso eu tenho a comodidade de falar tanto em paz e achar que a gente não tem de fazer opção", reconheceu.
Lula da Silva tem sido criticado por declarações em relação à guerra em que colocou em pé de igualdade o papel da Rússia e da Ucrânia no conflito ou sugeriu que o apoio militar da Europa e dos Estados Unidos da América a Kiev impede a paz.
Além da questão da Ucrânia, na conferência de imprensa de hoje, tanto Sánchez como Lula da Silva reiteraram o objetivo de ser fechado ainda em 2023 o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
Espanha presidirá ao Conselho da União Europeia a partir de 01 de julho, durante seis meses, e o mesmo fará o Brasil no Mercosul (Mercado Comum do Sul, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
Lula da Silva termina hoje em Madrid a primeira viagem oficial à Europa neste mandato como Presidente do Brasil, que o levou também a Portugal.