Jornalista chinês enfrenta acusações de espionagem, diz família
A família de um jornalista chinês, que trabalhou num jornal afiliado do Partido Comunista, disse que o repórter enfrenta acusações de espionagem, depois de ter sido detido num encontro com um diplomata japonês num restaurante.
Dong Yuyu, diretor-adjunto do departamento editorial do Diário de Guangming até ser detido, em fevereiro de 2022, encontrava-se regularmente com jornalistas e diplomatas estrangeiros para compreender as tendências mundiais.
Mas as autoridades chinesas consideraram aqueles contactos com diplomatas estrangeiros como prova de espionagem, de acordo com uma declaração da família, divulgada na segunda-feira.
Dong é o mais recente caso do que Pequim considera serem interferências estrangeiras.
Não sendo membro do Partido Comunista, Dong era uma das vozes mais favoráveis à reforma no Diário de Guangming e escrevia artigos a favor de um sistema jurídico independente, indicou a família.
Em 2006-2007 Dong frequentou a Universidade de Harvard com uma bolsa da instituição de ensino norte-americana. No Japão, foi bolseiro na Universidade de Keio, em 2010, e quatro anos mais tarde, foi professor visitante na Universidade de Hokkaido.
Em 2017, uma investigação das autoridades do partido concluiu que alguns artigos de Dong eram "antissocialistas", tendo sido ameaçado de despromoção, acrescentou a família.
Em fevereiro de 2022, Dong foi detido quando almoçava com um diplomata japonês num restaurante de um hotel, em Pequim, onde se encontrava frequentemente com amigos estrangeiros, de acordo com a mesma nota.
O diplomata também foi detido, o que provocou um forte protesto do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, tendo sido libertado várias horas depois.
No mês passado, a família do jornalista foi informada que Dong seria julgado, mas a data ainda não é clara, indicou. Na China, a espionagem pode ser punida com uma pena de prisão superior a dez anos.
Na terça-feira, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, disse não conhecer os pormenores do caso de Dong, quando questionada sobre o assunto. O Ministério não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Yoshimasa Hayashi, escusou-se a comentar o caso, invocando a sensibilidade da questão.
O caso de Dong atraiu a atenção internacional, tendo o Clube de Imprensa dos Estados Unidos, em Washington, pedido a libertação do jornalista, numa declaração divulgada na segunda-feira.
Mais de 60 pessoas, entre as quais destacados jornalistas e académicos estrangeiros, assinaram também uma petição, na qual pedem ao Governo chinês para reconsiderar as acusações contra Dong e afirmam que encontros com diplomatas e jornalistas estrangeiros não devem ser considerados como prova de espionagem.
"Quem quereria ir à China para se encontrar com jornalistas, académicos ou diplomatas chineses se esses encontros pudessem ser usados como prova de espionagem pelas autoridades chinesas?", escreveram na petição.
Num outro caso, um grupo de escritores e académicos pediu, numa declaração divulgada no sábado, a libertação do editor Li Yanhe, sediado em Taiwan, e que terá sido detido em Xangai.
O advogado e os familiares de Li não foram autorizados a visitá-lo. Na semana passada, a Radio Free Asia noticiou que o editor tinha sido detido durante uma viagem para se encontrar com familiares na China.
Esta manhã, a porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan da China, Zhu Fenglian, afirmou que Li está a ser investigado pelas autoridades de segurança chinesas por suspeita de participação em atividades que põem em perigo a segurança nacional.
A porta-voz afirmou que os direitos legítimos de Li serão protegidos em conformidade com a lei.
Em 2022, a jornalista australiana Cheng Lei foi julgada na China por acusações no âmbito da segurança nacional chinesa, mas o veredicto ainda não é conhecido, afirmou, em março, a Ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Penny Wong.
Cheng Lei nasceu na China e era jornalista da CGTN, o canal de língua inglesa da Televisão Central da China. Foi detida em agosto de 2019 e acusada pela China de partilhar segredos de Estado.