Centenas de britânicos anti-monarquia mobilizados para protestos durante coroação
Centenas de britânicos anti-monarquia vão manifestar-se durante as celebrações da coroação do Rei Carlos III em 06 de maio, mas de uma forma discreta e sem perturbar o evento, garantiu hoje em Londres o diretor da organização Republic, Graham Smith.
"Não vamos atirar nada, para além das nossas vozes, e não vamos perturbar nada para além da campanha de comunicação deles", prometeu hoje o responsável numa conferência de imprensa.
O jornal Daily Mail noticiou no fim-de-semana a existência de alegados planos de grupos de ativistas para espantar os cavalos que vão participar no cortejo entre o Palácio de Buckingham, a residência oficial do Rei, e a Abadia de Westminster, local onde decorrerá a cerimónia da coroação.
O risco surge na sequência de vários protestos com grande impacto nas últimas semanas, nomeadamente de defensores dos direitos dos animais durante a corrida de cavalos Grand National e do grupo ambientalista Just Stop Oil no Campeonato Mundial de Snooker.
Smith disse que espera mobilizar "pelo menos um milhar" de ativistas anti-monarquia para apupar o Rei durante o cortejo, mas desencorajou o arremesso de ovos, como fizeram outros manifestantes este ano, embora recorde que esta prática é "uma tradição de protesto político" que visou membros de governo no passado.
"Penso que há tipos de protesto muito mais inteligentes e espero realmente que ninguém o tente fazer, porque não ajudaria a [nossa] causa", vincou, durante um encontro com jornalistas organizado pela Associação de Imprensa Estrangeira no Reino Unido.
A manifestação durante a coroação será a sexta da campanha "Not My King" ("Não é o meu Rei") em poucas semanas, aproveitando um crescendo de interesse e afiliados na organização, disse o diretor da Republic.
A coroação, admitiu, "é uma grande oportunidade" para publicitar o movimento que quer substituir a monarquia britânica por uma república parlamentar com um presidente eleito universalmente.
Smith enumera países como a Irlanda, Islândia, Finlândia, Alemanha ou até Grécia e Itália como inspiração, onde os chefes de Estado "ajudaram a estabilizar o navio" em épocas de instabilidade política ou económica.
"O que estamos a propor não é particularmente radical, é democrático e está de acordo com os nossos princípios e valores", argumentou Graham Smith.
A morte da rainha Isabel II, disse este ativista, representa uma oportunidade, juntamente com a evolução geracional, pois existe uma menor atitude de deferência entre os jovens relativamente à monarquia.
"Havia um tal manto de deferência e bajulação em torno da própria Rainha que era muito difícil desafiar qualquer coisa que ela pudesse ter feito ou dito", referiu.
Sobre o novo Rei, vincou, "há muitas críticas a fazer sobre Carlos, mas ele simplesmente não é a Rainha, é esse o principal problema [porque] não herdou a deferência" de que a mãe beneficiava.
Uma sondagem da empresa YouGov realizada este mês e publicada hoje pela BBC indica que 58% dos britânicos quer manter a monarquia, enquanto apenas 26% preferiria eleger um Chefe de Estado.
O apoio à monarquia é maior entre eurocéticos e eleitores do Partido Conservador e maiores de 50 anos.
Porém, na faixa entre os 18 e 24 anos, 38% é favorável à transição do Reino Unido para uma república, contra 32% que preferem manter a monarquia, enquanto 30% que não têm uma opinião definida.
A mesma sondagem conclui que 58% dos inquiridos não se interessam pela família real, 54% não consideram que compense o dinheiro público que a realeza recebe e 45% dizem que o Rei está desfasado da vida dos britânicos comuns.