Crónicas

Politiquice

1. Disco: Ainda se lembram dos Everything But The Girl? Pois, voltaram. Com um óptimo regresso em “Fuse”. A pop dançável a que nos habituaram está lá toda. Músicas orelhudas, neste regresso de 24 anos sem nada produzir. Merece ser ouvido.

2. Livro: A iniciar-me no mundo dos e-books — sabendo que nada substitui o “sabor” do livro em papel — tropecei na edição brasileira de “A Incrível Viagem das Plantas”, de Stefano Mancuso. O tema era-me completamente desconhecido, daí a curiosidade. Um livro pequeno e interessantíssimo. Mancuso é um grande escritor. Cada capítulo conta-nos uma história sobre a incrível vida e poder das plantas, que é muito maior do que julgamos.

3. Ao longo da vida, deparamo-nos com pessoas com níveis variados de ambição. Alguns esforçam-se por alcançar objectivos mais gerais e, quando dão por isso, enfrentam muito mais do aquilo com que podem lidar na busca de um bem maior. Vem o cansaço e o desencanto de sentir que não são acompanhados. A rendição. Lideram pelo exemplo, sempre a pensar como melhorar as coisas e investindo quantidade significativa de tempo para alcançar mudanças que consideram fundamentais. São pessoas que não têm medo de agitar as águas.

Não, não falo de mim. Não me tenho em tão boa conta, nem rendi os meus parcos recursos ao que considero errado.

Depois há os outros, os que ganham sempre. Inteligentes e motivados, tendem a sê-lo muito mais pelo interesse próprio do que pelo bem maior. Impressionam inicialmente pelos seus talentos, mas não deixam de beijar o fundo das costas de quem for preciso para chegar ao proverbial próximo nível. Procuram alianças com pessoas de destaque, que rapidamente desconsideram quando o potencial da associação se esgota. São alpinistas que raramente ficam no mesmo lugar por muito tempo. Tem uma enorme adaptabilidade e uma coluna vertebral maleável, à prova de quebra.

Nem sempre é fácil distinguir a diferença entre estes trepadores políticos e os que são motivados pelo querer abraçar o futuro, que vêm como algo de que todos fazemos parte. Uns são genuínos e os outros disfarçam muito bem.

E ninguém duvide de que temos muito mais alpinistas políticos do que políticos genuínos, dos que procuram servir em vez de se servir.

4. É evidente o cansaço da maioria das pessoas pela política. Veem-na como uma coisa mesquinha pejada de políticos reles. Na vida política regional há muitos destes, e o seu número parece crescer todos os anos. E com eles vem a politiquice, o desrespeito, a mentira, a incompetência, a arrogância.

Ingrid Rossellini escreveu: “A violação que os gregos mais temiam era a arrogância: uma palavra carregada que descreve o tamanho exagerado que o ego adquire quando infectado por uma quantidade excessiva de orgulho e ambição”. O ego sempre foi um enorme inimigo da democracia. Não vemos disto todos os dias?

Tenho uma má notícia para vos dar: a politiquice é uma parte das nossas vidas. Não há como escapar. Ela está em todo o lado, implementada por políticos, burocratas governamentais, directores e chefes, no movimento associativo, na liderança dos clubes, na religião, grupos de cassino, em todas as organizações onde nos insiramos. Geralmente, a politiquice alimenta-se de guerras pela chave da retrete, porque as pessoas guardam religiosamente os feudos que construíram para si.

A politiquice aparece sempre que pessoas de mente pequenina são colocadas numa posição de autoridade, com prazer em poder exercer controlo sobre os outros. Procuram desesperadamente provar que são importantes e cheios de competência para mandar. É aí que está a sua fraqueza: no ego. O ego que induz à procura da dominação, porque neutralizador dos outros, que vêm como concorrentes ou como alguém que pode estragar os seus planos. Quanto mais intimam, quanto mais nos deixamos intimidar, mais eles perdem o respeito por todos, que pensam e tratam como se fossem todos o mesmo. E quando caem, fazem-no com estrondo.

Só seremos uma comunidade de gente feliz quando pusermos estes “bullys” — porque a politiquice não é mais do que isso — no seu devido lugar. No caixote de lixo da vida em comum.

5. Não tenho nada contra quem se “rende”, quem se sente “derrotado” seja pelo cansaço, seja pela falta de forças.

Mas a traição aos princípios que se defenderam desde sempre, faz-me enorme impressão.

A indignidade pessoal e política é uma coisa muito feia.

Enfim…

6. Que moral tem um partido que, ao longo da história da Autonomia, passou a vida a votar contra propostas da oposição que mais tarde apresentava como suas, aprovando-as, de falar em plágio?

Se tivessem um pingo de vergonha, voltavam a votar contra e daqui a algum tempo apresentavam o plágio como seu. Plagiador que plagia plagiação, tem 100 anos de perdão.

7. E continuo à espera para ver se alguma figura do PSD Madeira, ou do seu Governo, diz alguma coisa sobre a recusa do da República mostrar documentos à CPI da TAP.

8. O PSD, na Assembleia Regional, sugeriu que a proposta do PCP sobre o voto antecipado e em mobilidade, já para as próximas regionais, fosse remetido para uma tal de Comissão Eventual de Reforma que anda há anos a fingir que trabalha e não reforma coisa nenhuma. Não reúne há mais de um ano. Não produz rigorosamente nada.

E com isto ainda vão ficar uns milhares de madeirenses impedidos de votar. É assim que querem aumentar a participação, reduzindo a abstenção? É assim que pretendem mais e melhor democracia? Claro que não.