Silêncio do primeiro-ministro sobre casos da companhia "é ensurdecedor"
A coordenadora do Bloco de Esquerda criticou hoje o "silêncio ensurdecedor" do primeiro-ministro em relação às questões associadas à TAP, salientando que "já nem se pode escudar" nas explicações de nenhum ministro.
"O silêncio do primeiro-ministro [António Costa] sobre as questões da TAP é ensurdecedor e difícil de explicar. Neste momento, o primeiro-ministro já não se pode escudar em nenhum ministro para dar explicações, uma vez que nenhuma explicação de um ministro vale. Além disso, um ministro diz uma coisa e outro ministro diz o contrário", afirmou Catarina Martins.
"Este é mesmo o momento em que o primeiro-ministro tem de começar a dar explicações ao país num 'dossier' em que julgo que estamos chocados, e que todo o país fica chocado, com a incompetência, irresponsabilidade e leviandade com que se tem tratado uma empresa estratégica para Portugal e que implica milhões de euros para o país", acrescentou.
A coordenadora bloquista falava aos jornalistas numa conferência na sede nacional do BE, em Lisboa, para anunciar que, na segunda-feira, o partido vai apresentar no parlamento um projeto de resolução para a Proteção dos Rendimentos Face à Inflação e Rejeição do Programa de Estabilidade 2023/27, apresentado pelo Governo no dia 17 deste mês.
"Consideramos que o plano do Governo para o país empobrece a população e desprotege os serviços públicos em Portugal", afirmou Catarina Martins.
Questionada sobre as palavras do Presidente da República, em que Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que pode haver boas e más notícias em relação a uma eventual dissolução do Governo, Catarina Martins referiu que, apesar de não ser "nem comentadora nem descodificadora do chefe de Estado, o facto é que existe um executivo "que está envolvido em inúmeros casos que são graves".
"Temos o caso de ministros que dão versões contraditórias no parlamento em 'dossiers' que envolvem milhões de euros, como a TAP, em que o primeiro-ministro é incapaz de explicar, afinal, quem é que tem razão, se é a ministra Mariana Vieira da Silva, se é a ministra Ana Catarina Mendes, que diz que há pareceres jurídicos que não se mostram, ou se é o ministro das Finanças que diz que esses pareceres nem sequer existem", sustentou a coordenadora do Bloco de Esquerda.
Para Catarina Martins, este é "apenas um dos múltiplos casos" em que se nota que a causa pública "não é tratada da forma que exige a democracia e a ética republicana", que tem provocado instabilidade no país, agravada com os problemas na educação, saúde, forças de segurança e justiça.
"Não podemos continuar a ter as escolas com falta de aulas. Neste momento, há muitos alunos sem aulas e não por causa das greves. É porque faltam 30.000 professores na escola pública. [...] E com o Programa de Estabilidade que apresenta nada disso vai ser resolvido, não há margem", sublinhou, o mesmo defendendo em relação ao setor da Saúde.
"Temos urgências a fechar na Saúde, e temos uma espécie de mapa sobre a que porta é que se pode dirigir em cada dia, porque nunca se sabe qual a porta que estará aberta ou fechada nas urgências. [...] Com o Programa de Estabilidade que [o Governo] apresenta, não vai haver nenhuma margem para resolver isto", acrescentou.
Para a líder bloquista, o que se passa na Saúde e na Educação está a acontecer também na Justiça, nas forças de segurança e ainda na Habitação, "em que o Governo faz anúncios sucessivos sobre medidas que redundam em absolutamente zero, enquanto as pessoas veem a sua vida cada vez mais instável".
"Ao debate democrático em Portugal é preciso, sobretudo, falar das condições concretas da vida das pessoas. Para a população portuguesa, é muito complicado continuar a ouvir declarações sobre se há ou não estabilidade na política, sem que se fale das condições de estabilidade da vida das pessoas", afirmou.
"As pessoas é que importam. É preciso saber como as pessoas vão conseguir pagar as contas no supermercado, se vão ter uma casa para viver, se vão ao hospital saber se está aberto e se há uma escola para os seus filhos com professores", concluiu.
Nesse sentido, Catarina Martins insistiu na ideia de se deve discutir "as condições objetivas das pessoas no país", uma vez que, caso contrário, "corre-se o risco de haver um debate entre protagonistas políticos, que não diz absolutamente nada às pessoas".