Suicídio

O que leva uma pessoa a querer tirar a sua própria vida? Ainda muito pouco se fala sobre saúde mental, menos ainda sobre o suicídio. Há um medo da humilhação ou de precipitar alguma decisão. Mas este é um assunto que tem que ser falado se queremos que realmente seja evitado mais vezes!  Falar incentiva a falar. Só exteriorizar realmente inicia o processo de cura.  Mas, apesar de parecer algo tão simples, este passo é muito mais complexo do que aparenta. Ninguém quer começar a conversa sobre pôr fim à sua vida. Ninguém quer querer morrer, mas sim que o sofrimento acabe.  Há quem pense que é a atitude mais egoísta, que é a saída "mais fácil", um "fugir dos problemas", mas claro que a maioria dessas pessoas nunca sentiu o quão sufocante podem ser os pensamentos. Não fosse o "pensamento a força criadora" e talvez os demónios imaginados não se tornassem realidade, nos afogassem em angústia até ao fundo do fundo, para que mesmo se conseguíssemo-nos libertar a meio não sobrasse ar nenhum para chegar à superfície. Penso que não deve haver uma única pessoa que tenha pensado no suicídio como primeiro plano. Que não tenha virado noites, madrugadas, dias a tentar arranjar outra solução, a analisar todo e cada detalhe da situação que lhe colocou onde está. A gritar, em silêncio, ajuda. O suicídio vem de uma desconstrução colossal do sentido de próprio, a destruição do Eu. Até que não existam quaisquer incentivos ou motivações, apenas críticas e desilusões crescentes, já que estas são ciclicamente autodirecionadas. Entra-se neste túnel deprimente onde não há luz própria que atravesse. Não há esperança, não há nada.  É tudo um grande vácuo, um imenso nada que nos comprime diáriamente, até que não sobre nem um bocadinho daquilo que somos. Uma força tão grande que põe o fim da vida como a saída remanescente, a descompressão, o tomar as rédeas ao problema e lidar com ele, daquela que (verdadeiramente!) se acha ser a única solução. Não vale a pena tentar compreender as razões que levam alguém a tirar a sua própria vida ou tentar dar sentido a algo muito maior que uma simples resposta. Não há nada de simples no suicídio.  Mas há resposta. Empatia. Compaixão. Ninguém faz a menor ideia do que se passa dentro da cabeça de cada um de nós. Só cada um sabe as lutas que está a travar! E não cabe a rigorosamente mais ninguém tentar comparar ou minimizar as batalhas de cada um. O constrangimento existe mas cabe a cada um de nós mudar ou não a narrativa da história.  Já se perdeu demasiada gente para a solidão, mas estamos cada vez mais solitários.  Será que realmente já sabemos tudo o que há para saber sobre este assunto? Se sim, porque continuamos cada vez mais tolerantes em não agir? Se não, porque não tentamos, todos juntos, iluminarmo-nos uns aos outros? Por mais simples que possa parecer é a empatia que nos vai ajudar a criar um mundo que mais pessoas queiram viver. A sociedade em que estamos inseridos tem por si só um enorme impacto em determinar o número de pessoas com vontade de viver. Infelizmente os sentimentos são contagiosos. Sobrevivemos numa ilha muito quadrada, onde as suas arestas precisam urgentemente de ser limadas.  Ansiamos por mais compreensão e inclusão. Mas, felizmente, os sentimentos são contagiosos! Uma pequena atitude positiva para com o próximo tem o poder de se transformar numa enorme corrente de compaixão. Acho que o "agora" é o melhor momento para começar, então vamos lá.

Jaqueline Rodrigues