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Cerca de 40 misericórdias contestam direção da União das Misericórdias e querem alternativa

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Cerca de 40 Misericórdias, de norte a sul do país, contestam a atual direção da União das Misericórdias, que acusam de estar demasiado politizada e sem defender os interesses do setor, indo apresentar uma alternativa nas próximas eleições.

A contestação começou a tomar forma há cerca de um ano e constituiu-se entretanto no movimento "Somos Todos Misericórdia", que pretende demonstrar o descontentamento em relação à atual direção da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), presidida por Manuel Lemos, e propor mudanças.

Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do movimento explicou que a contestação surgiu dentro das próprias misericórdias, há cerca de um ano, porque não se sentem representadas pela UMP, envolvendo já perto de 40 instituições.

"O processo está a iniciar-se e vai culminar claramente com a apresentação de uma alternativa à liderança nacional no processo eleitoral que se avizinha, no próximo mês de dezembro", disse António Sérgio Martins, provedor da Misericórdia de Pampilhosa da Serra e porta-voz do movimento.

Segundo António Martins, que se assume como porta-voz, o movimento contesta a "falta de estratégia e decisão daquilo que se pretende para o futuro das Misericórdias portuguesas", apontando que estas instituições estão "a ser alvo de um ataque por parte do setor Estado" que está a por em causa a "identidade e a sustentabilidade do próprio setor".

Mencionou que há uma "desregulação" entre aquilo que é pago às misericórdias e que aquilo que é exigido, o que está a causar o "definhar" do setor.

"Exigia-se à nossa direção nacional, que é quem nos representa, que tivesse uma posição mais firme em defesa dos seus e não uma certa submissão ao poder político que não permite efectivamente fazer a separação correcta entre o papel do Estado e o papel das instituições que estão no terreno e que estão abraços com inúmeras dificuldades e que não conseguem superá-las se não for rapidamente corrigido pelo dito parceiro Estado esta situação, sobretudo da questão da comparticipação financeira", defendeu.

António Martins explicou que a segunda razão do descontentamento deste movimento tem a ver com o facto de a própria UMP ter respostas sociais, o que, entende, cria uma situação de conflito que "é urgentíssimo resolver".

"Nós propomos que esta discussão se abra o mais rapidamente possível. Propomos que seja feita uma alteração estatutária para que as Misericórdias digam o que é que pretendem fazer relativamente a estas chamadas respostas sociais que estão a ser desenvolvidas pela UMP", disse o porta-voz.

Sustentou que "é urgentíssimo" que esta revisão de estatutos seja feita sob pena de haver "uma discriminação entre a União enquanto entidade representante e a mesma União enquanto entidade prestadora desses mesmos serviços".

Em comunicado, o movimento refere que na Assembleia Geral de dia 15 de Abril "foi visível a incapacidade ou falta de vontade manifestada pelo secretariado nacional da UMP (...) em responder às diversas questões suscitadas pelas misericórdias, designadamente no que diz respeito ao Relatório de Actividades e Contas" de 2022.

Dizem que na mesma altura houve uma intervenção por parte do movimento, "originando um abrupto encerramento dos trabalhos" e que os provedores das misericórdias se viram impossibilitados de usar da palavra no final dos trabalhos "em face da forma inesperada e intempestiva com os que os mesmos foram dados por concluídos pela Mesa da Assembleia Geral".

"É preciso dar um murro na mesa, no bom sentido do termo, naturalmente, para que voltemos a ter uma União das Misericórdias que defenda efetivamente as Misericórdias porque se tal não acontecer a curto prazo, como lhe disse, começam a colapsar", avisou, dando conta que há instituições que já se viram obrigadas a encerrar valências, sobretudo ao nível dos cuidados continuados.

A Lusa contactou o presidente da UMP, mas Manuel Lemos não quis comentar.