Lula condena invasão após críticas dos EUA e da UE
O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, salientou hoje que condena a invasão russa da Ucrânia, ao mesmo tempo que defende a paz, depois de ter sido criticado pelos Estados Unidos e pela União Europeia pelas suas declarações.
"Ao mesmo tempo em que o meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada. Falei da nossa preocupação com os efeitos da guerra, que extrapolam o continente europeu", disse Lula da Silva, após uma reunião com o Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, no Palácio do Planalto, em Brasília, citado na imprensa local.
Depois de ter oferecido um almoço ao chefe de Estado romeno, um país da NATO, da União Europeia e que fez parte da União Soviética, o Presidente brasileiro garantiu ter ouvido "com muito interesse as considerações do Presidente Iohannis sobre a guerra na Ucrânia, país com o qual a Roménia compartilha mais de 600 quilómetros de fronteira".
Lula da Silva insistiu que existe uma "necessidade urgente" de um grupo de países ajudar a trazer a Rússia e a Ucrânia para a mesa das negociações de paz.
Na declaração conjunta dos dois países, os chefes de Estado reafirmaram o compromisso com o Direito Internacional, a Carta das Nações Unidas, "a promoção e proteção da paz e da segurança internacional, dos direitos humanos, o compromisso com a democracia e o estado de direito".
Na nota divulgada pela presidência brasileira, os dois países destacaram a "necessidade de fazer avançar, no âmbito da ONU, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas", uma das ambições da nova política externa brasileira de Lula da Silva, que pretende ver o seu país no conselho.
Na segunda-feira, em Brasília, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo apoiou as pretensões brasileiras de entrar no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Também na segunda-feira, os porta-vozes dos EUA e da UE criticaram Lula da Silva por dizer que os membros da NATO estão a ajudar a prolongar a guerra.
O mais enfático foi o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, que acusou Lula da Silva de "papaguear" propaganda russa e chinesa sobre a guerra na Ucrânia sem ter parado para estudar "os factos".
"É profundamente problemática a forma como o Brasil abordou esta questão, tanto substantiva como retórica, ao sugerir que os Estados Unidos e a Europa não estão de alguma forma interessados na paz ou que partilham a responsabilidade pela guerra", disse Kirby.
O conselheiro de Lula da Silva para os assuntos internacionais, Celso Amorim, rejeitou hoje as declarações do porta-voz da Casa Branca, considerando-as como "absurdas".
Numa entrevista à televisão Globonews, Amorim salientou que o Brasil tem mantido historicamente uma posição de não-alinhamento com os poderes, o que não deve ser confundido com neutralidade.
No entanto, manteve as suas críticas aos aliados da NATO por armarem a Ucrânia e darem-lhe "falsas esperanças" de poder derrotar a Rússia no campo de batalha.
Lula da Silva recebeu na segunda-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, no início da sua visita à América Latina.
Na semana passada, durante a sua viagem à China e aos Emirados Árabes Unidos, Lula da Silva disse que os EUA deveriam deixar de "encorajar" a guerra e "começar a falar de paz", tal como a União Europeia, e insistiu em apontar-lhes o dedo por "contribuírem" para a continuação da guerra, enviando armas ao Governo ucraniano.
O Brasil condenou a invasão da Ucrânia na ONU, mas também se alinhou com as posições da Rússia, votando a favor de uma investigação sobre o ataque ao gasoduto Nordstream em setembro passado.