"Parte dos juros já não era devida, devido à prescrição dos mesmos", diz Carlos Pereira
Deputado socialista realça que a dívida originária da empresa era de 100,908,54 euros
Político madeirense argumenta que nunca teve qualquer dívida junto da Caixa Geral de Depósitos, sendo apenas avalista de um empréstimo
O jornal Correio da Manhã (CM) divulgou, ontem, um documento que provava o perdão da alegada dívida de Carlos Pereira à Caixa Geral de Depósitos (CGD). De acordo com reclamação (enviada pela própria Caixa ao Tribunal do Funchal) tornada pública, “a CGD reclamou dívida de 181.654, mas aceitou o pagamento de 115.946 euros”. A versão do deputado socialista é que não se trata de um perdão de dívida, mas antes de uma questão de juros prescritos.
Divulgado documento que prova alegado perdão de dívida a Carlos Pereira
Reclamação enviada pela própria CGD ao Tribunal do Funchal contradiz versões do deputado do PS e da Caixa
Nas respostas enviadas pelo ex-coordenador do PS na comissão de inquérito à TAP ao CM, às quais o DIÁRIO teve acesso, Carlos Pereira refere que “quando tem lugar o pagamento da dívida, uma outra parte dos juros já não era devida, devido à prescrição dos mesmos pela antiguidade da dívida”, explicando assim a diferença de 66 mil euros, entre o montante pago e o reclamado.
“A dívida originária da empresa era, segundo informação do banco em 2021, de 100,908,54 euros. Sendo apenas avalista da referida dívida, apenas quando o Banco desencadeia acção executiva para cobrança da mesma, em 2022, é que sou chamado a responder pessoalmente. É essa, de resto, a natureza dos avales – o avalista é chamado a responder por uma dívida que não é sua, mas à qual deu essa garantia”, começa por expor o deputado do PS.
“Até 2022, aliás, nunca tive qualquer dívida junto da Caixa Geral de Depósitos, nem sequer tendo conta naquela instituição bancária”, vinca, clarificando que “apenas em 2022, quando já pessoalmente interpelado para o pagamento, é que a negociação ocorreu entre os advogados da CGD e um advogado que foi seleccionado para o caso”.
Carlos Pereira é perentório nas respostas ao CM: “O banco não concedeu qualquer perdão de dívida”, afirma.
“Como já referi, o valor da dívida da empresa em 2021, era de cerca de 100 mil euros, pelo que foi esse sempre o valor de referência que os avalistas tiveram em conta como o ponto de partida da negociação para travar a execução. Em segundo lugar, como também referi, entre 2016 e 2021 houve esforços vários de resolver a situação junto dos advogados do banco que tratavam do contencioso (…). Ou seja, os avalistas da divida daquela empresa, procuraram encontrar uma solução de pagamento, o que foi inviabilizado pela instituição de crédito. Consequentemente, uma parte substancial de juros reclamados não era efectivamente devida, porque correspondiam ao período em que o banco não respondeu aos avalistas que procuraram saldar a dívida da empresa. Finalmente, quando tem lugar o pagamento da dívida, uma outra parte dos juros já não era devida, devido à prescrição dos mesmos pela antiguidade da dívida”, sustenta.
Com efeito, a edição deste domingo do Correio da Manhã dá conta de que "a CGD demorou seis anos a preencher as três livranças avalizadas por Carlos Pereira, deputado do PS, a mulher deste e mais quatro pessoas, com vista a executar-lhes uma dívida inicial da BKAT Consulting”.
“O processo de insolvência desta empresa foi encerrado, por insuficiência de bens para pagar aos credores, em Julho de 2015, mas a Caixa preencheu as três livranças em Agosto de 2021 e avançou com a execução da dívida em Janeiro de 2022", escreve o periódico.
Caixa demora seis anos a cobrar dívida a Carlos Pereira
Este é uma dos temas em destaque, neste domingo, 16 de Abril, na imprensa portuguesa
Carlos Pereira ressalva ainda que “não se verificou qualquer tratamento preferencial” e que nunca teve qualquer dívida junto da Caixa Geral de Depósitos.
“Em primeiro lugar, em 2016 e 2017, período durante o qual decorreram as comissões parlamentar de inquérito (CPI) CGD, eu não tinha qualquer dívida com a CGD (…) sendo apenas avalista de um empréstimo da empresa, essa sim devedora da CGD”.
“O processo executivo que leva ao pagamento da dívida apenas ocorre em 2022, altura da intenção formal de desencadear a execução, ou seja, mais de 5 anos após o fim da minha participação na última CPI da CGD”, insiste.
“Tendo em conta que é a CGD que inicia um processo contencioso de execução, fica também bem demonstrada a ausência de qualquer tratamento preferencial, tendo a opção principal da instituição bancária sido a da litigância”, complementa.
O parlamentar revela ainda que “o pagamento da divida foi feito através de um empréstimo solidário entre todos os visados junto da CGD celebrado em Março 2022”. Empréstimo esse que assume com a sua mulher em 38.648 euros.
Pereira rejeita ainda ter sido sócio da BKAT. “Não era e nunca fui acionista da empresa. Quando assumi funções como presidente da AG da empresa, o convite inicial era para ser acionista. Contudo, considerei não ser a altura para ser accionista”.
“Entretanto, ao longo do tempo, a empresa necessitou de financiamento e foi o balcão de empresas da CGD na Madeira que solicitou que a aprovação dos empréstimos à empresa BKAT seria mais facilmente concretizada com mais um avalista e sugeriram o presidente da AG. Aceitei fazê-lo, até porque não havia evidência de que a empresa não pudesse pagar este empréstimo, algo que se alterou no quadro da crise financeira que viria a ocorrer mais tarde”, justifica.
“Não só não era sócio, como nunca fui sócio oculto: a minha relação com a empresa passava pelos órgãos sociais, algo que sempre declarei e foi público. Ademais, ainda que nunca tenha tido qualquer incompatibilidade formal que me impedisse de ser sócio, nunca foi essa a minha opção, apenas tendo prestado uma garantia de um empréstimo, realidade frequentíssima na vida de uma sociedade”, concluiu.
Já o banco público alega que não houve um perdão de dívida ao avalista da empresa que faliu em 2015 e que foi “totalmente ressarcida” do empréstimo a Carlos Pereira.
CGD diz que foi "totalmente ressarcida" do capital emprestado ao deputado Carlos Pereira
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) disse hoje que não houve um perdão de dívida, que foi "totalmente ressarcida" do empréstimo ao deputado do PS Carlos Pereira, que hoje anunciou a sua saída da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.
A polémica em torno do alegado favorecimento, levou o coordenador dos deputados do PS na comissão de inquérito à TAP, a abandonar todas as suas funções neste órgão parlamentar, sendo substituído por Bruno Aragão.
Bruno Aragão é o novo coordenador do PS na comissão de inquérito
O deputado socialista Bruno Aragão é novo coordenador do PS na comissão de inquérito à gestão da TAP, substituindo Carlos Pereira no cargo, disse à Lusa fonte parlamentar do partido.