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Ruy de Carvalho, D. Duarte e eu

Certa vez, na sequência dos acontecimentos que sucederam no pós 20 de setembro, o fatídico temporal que assolou a Madeira, tive de representar o governo da região numa cerimónia no Casino Estoril, com o patrocínio da SIC.

Já em Lisboa uma arreliadora constipação tirou-me a voz. Nada mais inoportuno caso tivesse que botar palavra. Hei de me desenrascar, pensei. Dirigi-me ao local de táxi. Fazia bastante frio e estava na condição que vos descrevi. Ia agasalhado, com sobretudo, cachecol e luvas.

Quando lá cheguei veio ao meu encontro uma senhora anunciando que ia levar-me até D. Duarte, o monarca. Estranhei. Pensei que encontraria alguém da estação televisiva, mas não, estava o Duque de Bragança, o que indiciava outras envolvências na organização.

E, aí, alcancei que não só estava afónico, como o pretendente ao trono sofria desse mal em permanência. Ia pensar que estava a imitá-lo, cismei. Tratei logo de avisar a interlocutora do protocolo do meu estado e circunstância. Certo é que logo que falei com ele achei que não devia abrir mais a boca. O som saía igual, para mal dos meus pecados. Quando sugeriram que nos sentássemos, fiquei com quem mais receava à minha esquerda e com Ruy de Carvalho, o emérito actor, à direita.

Como não me apetecia falar com D. Duarte, pelas razões óbvias, fui conversando com o veterano artista. Dando conta da excelente pessoa que é e da grande simpatia que nutre pela Madeira. Não foi com surpresa que li que pretende ficar por cá depois da morte. Devíamos, em tempo, prestar-lhe uma homenagem à sua verdadeira dimensão. Por ser um enorme personagem do teatro, do cinema, da televisão e da cultura nacional, uma pessoa superior e um muito bem vindo e adotado madeirense.