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Criar (o) futuro (XVIII)

Que a vida é feita de ciclos, todos nós sabemos, mas quando a vida não segue o percurso que previmos, obriga-nos a (re)analisar o que foi feito e como foi feito

“As traições que assomam na nossa vida não devem ser motivo para que desistamos dela, mas antes nos convidam a aprender, a caminhar, a crescer”. Ultimamente, tenho relido estas palavras do Cardeal José Tolentino Mendonça.

Que a vida é feita de ciclos, todos nós sabemos, mas quando a vida não segue o percurso que previmos, obriga-nos a (re)analisar o que foi feito, como foi feito e o que poderíamos ter mudado. Também rapidamente confirmamos com quem realmente contamos no nosso caminho.

Na caminhada da vida, há uma palavra-chave: felicidade. No passado dia 20 de março, celebrou-se o Dia Internacional da Felicidade, e, de acordo com o Relatório da Felicidade Mundial, um estudo anual publicado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, Portugal ocupa o 56.º lugar, com uma pontuação de 5,968, numa escala de zero a dez. O Relatório avalia a relação entre a felicidade e o desenvolvimento, analisando a qualidade de vida com base nos seguintes itens: PIB per capita, expectativa de vida, suporte social, confiança e corrupção, liberdade reconhecida para tomar decisões de vida e generosidade.

Permitam-me que hoje me debruce sobre a generosidade. Parece até desenquadrada do mundo atual, em que somos, muitas vezes, confrontados com atitudes e decisões motivadas pelo egoísmo e falta de empatia. Mas acredito verdadeiramente que o pensar no outro, o fazer da causa pública um verdadeiro exercício de cidadania, colocando o bem-estar no centro nevrálgico do debate político, é o caminho certo, ou melhor, é o único caminho. Tal desiderato assume importância primordial, dados os efeitos que tem em aspetos como a longevidade ou a produtividade, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento sustentável.

A longevidade é, de forma inegável, uma conquista civilizacional ao nível do desenvolvimento humano. Mas temos de continuar a investir em soluções e respostas ao nível da intervenção junto da população idosa, com a tónica no ageing in place, ou seja, a permanência no seu meio natural de vida e, quando tal não for possível, que seja garantida a institucionalização, com dignidade e respeito por esta franja significativa da nossa população.

O efeito da longevidade na transformação demográfica assume um papel decisivo no delinear de políticas públicas no presente e futuro, pois só com respostas estruturadas entre dois setores fundamentais, Saúde e Segurança Social/Solidariedade, é que será coroado de êxito o caminho para mais e melhor coesão social e crescimento inclusivo. Para tal, tem de existir uma articulação muito próxima, com uma visão semelhante, sem descurar as responsabilidades de cada setor, partilhando o essencial: o foco no cidadão, sobretudo no que é ou está mais vulnerável, seja em termos de saúde e/ou sociais e económicos.

Exemplo da relação exigida de partilha e trabalho em conjunto, são os projetos relativos às estruturas residenciais para pessoas idosas (lares) e à rede de cuidados continuados integrados, em que há que aproveitar, com grande rigor técnico e cumprimento dos prazos de execução, as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Neste campo, não posso deixar de realçar as palavras do Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, quando enaltece a decisão tomada quando da escolha dos projetos a inserir no PRR, em 2020, referindo “A Madeira, num critério inteligente, entendeu que parte das verbas do PRR deveriam ir para o apoio aos mais idosos, para as políticas de envelhecimento” (in Diário de Notícias da Madeira, de 12/04/2023).

Mas uma cultura de bem-estar no centro das ações e decisões políticas também tem efeitos, como já referido, na produtividade. E, nesta vertente, assume especial preponderância as condições de trabalho, mas sobretudo os fatores potenciadores de acesso a um trabalho digno, remunerado de forma a permitir encarar a vida e o futuro com esperança. Um futuro com oportunidades para todos, e especialmente para os jovens, fomentando nos mesmos a vontade de contribuírem para uma realidade em que impere a qualidade de vida, e em que os sonhos se tornem realidade.

E por falar de jovens, aproveito para desejar ao meu sobrinho e afilhado Pedro um feliz dia de aniversário, que celebra amanhã, neste ano tão importante para ele, em que se prepara para ser pai.

Para terminar, neste mês em que se celebra o Dia da Liberdade, nunca devemos esquecer a frase do escritor Albert Camus: “A liberdade não é mais do que uma oportunidade para sermos melhores”.