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Inquisição ou inquérito?

No dicionário da Porto Editora, a palavra “inquisição” aparece com três significados - Ato ou efeito de inquirir, de perguntar ou procurar colher informações sobre - Averiguação minuciosa - RELIGIÃO, antigo tribunal eclesiástico criado pela Igreja católica para julgar os acusados de heresia, apostasia e outros delitos contra a fé; Tribunal do Santo Ofício.

Já a palavra “inquérito” tem seis significados - Ato ou efeito de inquirir, de procurar colher informações sobre - DIREITO, fase processual em direito penal que consiste na investigação acerca da existência ou não de um crime e do seu autor – Inspeção, que tem por fim apurar certos factos; sindicância - Pesquisa metódica, baseada em questões e recolha de testemunhos, investigação -Sondagem da opinião pública sobre uma questão política, social ou económica -Indagação.

No caso de um inquérito parlamentar, trata-se de uma investigação feita por uma comissão em nome de uma assembleia.

Bastava que os partidos proponentes da comissão de inquérito sobre as “opiniões” de um ex-secretário regional, tivessem dedicado algum tempo a consultar o vocabulário para perceberem o significado das palavras e, dessa forma, evitariam a má figura de inquiridores ou inquisidores que fizeram.

Faltou fazer o trabalho de casa, ou seja, pesquisar, ouvir a opinião pública sobre as matérias em causa, ir ao terreno e averiguar a veracidade ou não das tais “opiniões”.

Certamente daria muito trabalho, daí optarem por ler o “suposto artigo de opinião” do ex-governante no DN de Lisboa, que em “off”? imaginem, falou de “obras inventadas” e “favorecimentos a grupos económicos” na Madeira.

A partir daqui, foi só construir uma teia de suspeições e “armadilhar umas perguntas”. Perguntas essas demasiado extensas, sem o mínimo de critério, com matéria dispersa e sem ir ao essencial. Houve ou não favorecimento? Inventaram-se ou não obras? E daqui não se saía. Só com respostas concretas a estas questões a inquirição poderia derivar para bom porto.

Sigam o exemplo e aprendam com as comissões de inquérito na Assembleia da República!

Optaram por outra estratégia, alongando as questões, introduzindo “pareceres” dos próprios inquiridores, o que se tornou presa fácil para os empresários em causa, que facilmente, desmontaram o enredo ou a trama, apresentados neste caso, pelo PS e CDU.

O baile foi tanto que até deu dó a quem assistiu pela televisão. Foram várias “horas de burro” protagonizadas pelos inquiridores.

A própria comissão de inquérito começou mal por não ter iniciado os trabalhos ouvindo o principal interlocutor. Penso que na ânsia do protagonismo, os proponentes esqueceram-se da peça essencial do puzzle... o ex-governante. Uma falha grave que o PCP tentou emendar, mas já sem o efeito pretendido.

O próprio “denunciador” quando ouvido, tentou emendar a mão. Falou em “opiniões sem provas”, manteve um discurso pouco criativo e sem concretizar o que dissera, segundo o próprio, em “off” a um jornalista.

Aguardemos pelas conclusões da comissão de inquérito, mas pelo que se viu e ouviu... mais uma vez, a “montanha pariu um rato.