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Cavaco considera que "situação política muito perigosa" se deteriorou "muito mais" do que pensava

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Foto: TIAGO PETINGA/LUSA

O ex-Presidente da República Cavaco Silva considerou hoje que a situação política, que classificou há dois meses como "muito perigosa", se deteriorou desde então "muito mais do que antecipava", sem querer detalhar a que se refere.

No final do lançamento do livro "Crónicas de um País Estagnado", da autoria do líder parlamentar do PSD e professor universitário Joaquim Miranda Sarmento, e em que esteve sentado ao lado do presidente do PSD, Luís Montenegro, o antigo chefe de Estado foi questionado se concordava com o diagnóstico traçado.

"Vim aqui apenas para me associar ao lançamento do livro do professor Joaquim Sarmento, que foi meu assessor quando desempenhava as funções de Presidente da República", começou por dizer Cavaco Silva.

Em seguida, e questionado sobre o que pensava de declarações recentes do atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, de que não haveria ainda uma alternativa à direita ao atual Governo do PS, o antigo primeiro-ministro deu uma resposta mais elaborada.

"Há poucas semanas disse que a situação política em Portugal estava muito perigosa. De então para cá, ela deteriorou-se muito mais do que aquilo que eu então antecipava. Neste contexto, entendo que não devo fazer quaisquer comentários", afirmou, sem querer esclarecer, em concreto, a que se refere.

Em 15 de fevereiro, na Figueira da Foz, Cavaco Silva tinha recorrido a esta expressão, igualmente sem detalhar.

"Eu tenho sido muito solicitado para falar sobre a situação política do nosso país. Mas considero que, da minha parte, não é tempo de falar, porque considero que a nossa situação política é, neste momento, muito perigosa e eu não quero atirar achas para a fogueira", frisou Cavaco Silva.

"Por isso, peço-lhe desculpa em não acrescentar mais nada do que aquilo que há pouco disse naquele microfone", sublinhou então.

Na segunda-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afastou novamente um cenário de dissolução, invocando a conjuntura e falta de "uma alternativa óbvia em termos políticos", e desafiou a oposição a "transformar aquilo que é somatório dos números" nas sondagens "numa alternativa política que seja uma realidade suficientemente forte para os portugueses dizerem: no futuro temos esta alternativa".

Na apresentação do livro, Miranda Sarmento elegeu como principal problema do país a estagnação que se verifica "há mais de 20 anos", com consequências nos baixos salários, aumento do endividamento e deterioração dos serviços públicos.

"Portugal continua a ser um país bastante pobre e bastante desigual, a mediana de salários anda à volta dos mil euros e um em cada cinco portugueses que trabalham não consegue fugir à condição de pobreza", lamentou.

Como segundo grande tema das crónicas publicadas ao longo dos últimos sete anos no jornal Eco, o líder parlamentar do PSD elegeu "o equilíbrio ilusório" das contas públicas.

"Não tivemos entre 2016 e 2019, e não estamos a ter agora em 2022 e 2023, uma consolidação orçamental estrutural assente em fatores que permitam ao país ser mais competitivo. Vamos vendo uma redução do défice e da dívida, por um lado aproveitando fatores externos e, por outro, com uma carga fiscal cada vez mais elevada e serviços públicos cada vez menos eficientes", criticou.

A apresentação do livro esteve a cargo do economista Vitor Bento, que apelou a uma sociedade civil mais forte e empenhada "na defesa das ideias certas e no combate às ideias erradas", considerando que atualmente se instalou em Portugal um "mapa ideológico fortemente enviesado" assente em "correntes neo-marxistas", que abre caminho ao crescimento dos populismos.

"Há menos de um mês, fui a uma audição parlamentar pedida pelo PSD sobre a banca. A intervenção do PSD nessa audição não se distinguiu em nada, quer no conteúdo quer no modo, de uma intervenção da extrema-esquerda. Na mesma semana, ouvimos um ministro, que fez carreira na gestão de importantes empresas, mostrar-se preocupado com o preço das cebolas e em enviar a polícia para controlar preços nos supermercados, certamente contra as suas convicções", disse, referindo-se ao titular da pasta da Economia, António Costa Silva.

O antigo conselheiro de Estado de Cavaco Silva aludiu ainda às recentes polémicas a envolver a TAP, como "um manual de má 'governance, de más práticas'".

"O caso tem pouco de excecional, mas estas coisas costumam passar-se fora dos holofotes. Desta vez, o palco foi iluminado e houve teatro. E o que acendeu a luz neste palco não foi uma preocupação séria, mas um tição populista na capa de um jornal de que alguém recebeu 500 mil euros. O resto apareceu depois para aproveitar a iluminação do palco e ajustar contas pendentes", criticou.