Diretores alertam que alunos não conseguem aprender porque faltam bases
Os diretores escolares alertaram hoje para as dificuldades que muitos alunos estão a ter em aprender novas matérias, especialmente os mais novos e os mais carenciados, porque faltam conhecimentos essenciais que ficaram por aprender durante a pandemia.
"Os professores estão agora a identificar a falta de aprendizagens estruturantes que impedem aprendizagens nos anos seguintes. São aprendizagens essenciais que bloqueiam as aprendizagens seguintes", alertou David Sousa, diretor da Escola Básica e Secundária Frei Gonçalo de Azevedo, um dos diretores que hoje esteve no parlamento a ser ouvido sobre o Plano de Recuperação das Aprendizagens (PRA) criado pelo Governo para minimizar o impacto da pandemia de covid-19.
"Agora é que se começa verdadeiramente a sentir o impacto da pandemia", disse David Sousa, que é também vice-presidente Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), lamentando a "transição facilitada" dos alunos nos últimos três anos, mesmo quando não estavam garantidas as aprendizagens essenciais.
David Sousa explicou que é entre os alunos de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos que se nota mais dificuldades: "Não ter tido aulas fez com que as consequências nessas aprendizagens estruturantes fossem arrasadoras".
A posição foi corroborada pelos restantes diretores escolares que hoje estiveram na Comissão de Educação e Ciência, numa audição que juntou as duas associações representativas dos diretores.
Segundo Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, os impactos da pandemia sentiram-se mais entre os alunos do 1.º ciclo, que ainda estavam a aprender a ler e a escrever, e nas escolas situadas nas zonas mais isoladas, onde a internet chega com mais dificuldades.
"O grande plano que é preciso desenvolver no país é trabalhar a leitura, a escrita e o pensamento. Foi aí que as escolas do interior do país mais investiram", sublinhou Manuel Pereira, referindo-se às medidas do PRA implementadas pelas escolas.
Filinto Lima, presidente da ANDAEP, acrescentou que o atual ano letivo é "o primeiro ano da aplicação em pleno do PRA", uma vez que ainda no ano passado, em 2021/2022, as escolas continuavam a debater-se com questões relacionadas com a covid-19.
"Até fevereiro do ano passado, as escolas estiveram praticamente a gerir a covid, mais do que as questões pedagógicas. A pausa do Natal foi prolongada mais uma semana, com as aulas a começar a 10 de janeiro em vez de 3 de janeiro. Isto prejudicou o Plano de Recuperação de Aprendizagens (PRA)", recordou Filinto Lima.
Para Filinto Lima, o PRA "está bem elaborado, mas ficou aquém do expectável", voltando por isso a defender o prolongamento do plano: "Estou convencido de que na esmagadora maioria dos casos, o PRA deveria ser estendido pelo menos por mais um ano letivo".
Todos os diretores escolares defenderam a necessidade de aumentar os recursos humanos nas escolas, dotando-as com mais professores e técnicos especializados.
Os diretores escolares voltaram também a defender a "valorização social do trabalho dos professores" e a melhoria de condições para quem trabalha nas escolas.
"É preciso valorizar os professores, porque são eles que implementam as políticas há muitos anos. Eles sentem-se desvalorizados e desmotivados", alertou Jorge Saleiro, também vice-presidente da ANDE.
Das políticas do PRA implementadas, os diretores apontaram os Planos de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário (PDPSC).
Os deputados questionaram os diretores sobre se os recursos disponibilizados pela tutela foram suficientes para implementar o PRA, sobre as condicionantes que sentiram para desenvolver o PRA, mas o pouco tempo dado aos diretores impediu-os de responder à grande maioria das perguntas, tendo os deputados sugerido que enviassem as respostas por escrito.