Kiev investiga agência de viagens da Crimeia que terá facilitado deportação de crianças
O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) divulgou hoje estar a investigar a proprietária de uma agência de viagens da Crimeia por alegadamente fornecer à Rússia autocarros para a deportação de crianças ucranianas de territórios sob controlo russo.
"Foi ela quem voluntariamente concordou em ajudar os ocupantes a deportar à força crianças ucranianas de Kherson, Melitopol, Donetsk, Lugansk e Makiivka", afirmaram os serviços secretos ucranianos na plataforma Telegram.
Entre os menores estavam "órfãos e centenas de crianças cujos pais foram detidos ilegalmente enquanto tentavam deixar a zona de guerra", acrescentaram.
As crianças foram deportadas entre setembro e outubro do ano passado para Sebastopol, na Crimeia, península ucraniana no Mar Negro anexada pela Rússia em 2014, de acordo com a mesma fonte.
A proprietária da agência de viagens terá também ajudado a encontrar alojamento para os menores na Crimeia, segundo os serviços secretos ucranianos, que acrescentaram que "a colaboradora" está atualmente nos territórios ocupados pela Rússia no sul da Ucrânia.
Em março passado, as autoridades ucranianas disseram ter identificado mais de 19 mil menores deportados pelas forças russas dos territórios ocupados.
Essas crianças foram transferidas sem o consentimento dos pais ou tutores para outras regiões ucranianas sob controlo de Moscovo ou para a própria Federação Russa.
O Governo ucraniano informou ter descoberto o paradeiro de mais de 11 mil crianças. Em alguns casos, Kiev também conhece a identidade dos pais adotivos russos.
Até ao momento, as autoridades e organizações não-governamentais (ONG) ucranianas conseguiram devolver 361 menores às respetivas famílias.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.451 civis mortos e 14.156 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.