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Lula afirma-se como ator internacional importante com viagem à China

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Especialistas consultados pela Lusa consideram que a viagem do Presidente brasileiro, Lula da Silva, à China, com uma comitiva sem precedentes, pretende projetar o país como ator internacional e é um "sinal de respeito" para com o maior parceiro comercial.

Luiz Inácio Lula da Silva estará na China entre os dias 12 e 15 de abril, depois de uma primeira viagem ter sido anulada por motivos de doença. Lula da Silva parte acompanhado por uma delegação recorde de 240 homens de negócios, ministros e parlamentares.

"Não me lembro de uma comitiva oficial ter essa robustez, a gente vê empresários de todos segmentos", disse à Lusa o consultor de agronegócio Luciano Vacari, destacando ainda o facto de os empresários de proteína animal estarem em peso representados.

"O Brasil está buscando uma reaproximação", considerou Luciano Vacari, referindo-se às relações políticas conflituosas entre o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o seu homólogo chinês, Xi Jinping. "Com um comprador deste tamanho temos de ter uma relação mais saudável possível", frisou.

Logo na segunda-feira, com uma agenda intensa, o ministro da Agricultura do Brasil embarcou para Pequim para iniciar uma série de conversações com o seu principal importador de produtos agropecuários. Na comitiva foram ainda mais de 100 pequenos, médios e grandes empresários, produtores, representantes de associações e cooperativas do agronegócio brasileiro.

Para já, a ida antecipada do ministro da Agricultura do Brasil já deu frutos: as autoridades da China confirmaram o levantamento do embargo à carne bovina vinda do Brasil, imposto desde fevereiro após a confirmação de um caso isolado e atípico da doença das "vacas loucas".

A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil e uma das principais origens de investimentos em território brasileiro. Em 2022, o comércio bilateral atingiu recorde de 139,97 mil milhões de euros.

A acrescentar, Pequim é o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro representando 31,9% das exportações do agronegócio brasileiro em 2022, num total de 47,20 mil milhões de euros. Entre os dez produtos mais exportados, a China foi o principal destino de seis: soja, carne bovina, carne de frango, celulose, açúcar de cana em bruto e algodão.

"Existe um anseio muito grande de ter a planta capacitada para vender na China", afirmou o especialista em agronegócio.

A viagem de Lula da Silva, contudo, extrapola a relação comercial e pretende restabelecer novas relações políticas e catapultar o Brasil para o panorama internacional, explicou à Lusa a professora do curso de Relações Internacionais e Integração na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) Karen dos Santos Honório.

 Para além da relação pragmática, no campo da política externa brasileira o objetivo é que a relação Brasil-China seja consolidada "como uma relação central para se perceber como é que o Brasil se projeta na política internacional e principalmente num contexto de disputa entre Estados Unidos e China", disse.

"Tentar reconquistar uma relação de prestígio com a China que aconteceu nos antigos governos de Lula", consolidando-se na aliança de formação dos BRICS, agrupamento de países de mercado emergente como China, Rússia, Índia, Brasil, que "perdeu força durante o Governo Bolsonaro", frisou a especialista em relações internacionais.

Para além disso, a diplomacia brasileira compreende que o papel da China na América Latina, nos últimos 20 anos ganhou robustez.

 "A China aumentou muito a sua influência nos países latino-americanos", num primeiro momento meramente comercial, mas ultimamente até na compra de dívida pública e investimento em infraestrutura, recordou Karen dos Santos Honório.

A professora de relações internacionais lembrou ainda o ambicioso plano chinês que Xi Jinping pretende implementar para se tornar a potência hegemónica nas próximas décadas e que, o Brasil, tendo consciência disso, não quer ficar de fora.

Karen dos Santos Honório referia-se à Nova Rota da Seda, a iniciativa chinesa que visa construir autoestradas, linhas ferroviárias ou portos em mais de 60 países, um projeto internacional de infraestruturas que prevê a construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas, ligando o leste da Ásia à Europa, Médio Oriente e África.

"O Brasil está jogando o jogo da política internacional para ter ganhos políticos" e potencializar o Brasil como uma ator relevante, disse.

Nesta visita vislumbra-se um claro contraste com a ida de Lula da Silva aos Estados Unidos para se encontrar com o Presidente norte-americano, Joe Biden. Nos Estados Unidos, no mês passado, Lula da Silva esteve em Washington menos de 48 horas e não se encontrou com empresários.

 "Os Estados Unidos estão preocupados com essa aproximação do Brasil com a China", afirmou a professora, lembrando a comissão de relações exteriores do Senado norte-americano convidou autoridades do governo Biden para uma discussão sobre o "futuro das relações entre Estados Unidos e Brasil".

À BBC News Brasil, um dos integrantes da comitiva presidencial brasileira à China foi direto ao assunto: "se os dois gigantes quiserem brigar para saber quem será o melhor parceiro para o Brasil, só temos a ganhar", afirmou.

Karen dos Santos Honório aposta que o Brasil "vai saber tirar o melhor proveito desses dois atores, porque o Brasil tem plena consciência da importância das relações com os Estados Unidos, na América Latina e na região".

Por outro lado, "o Brasil também tem essa diretriz de construir" uma política externa global e isso "passa pela China", considerou.