Monocultura no Funchal
O turismo e a população residente da Madeira, como em qualquer parte, necessitam de oferta cultural e de entretenimento. Se em relação à oferta cultural a opinião é unânime embora muitas vezes isso não se reflita nos orçamentos, em relação ao entretenimento existe sempre a tentação de estrangular o mais possível, tudo o que esteja relacionado com copos, bares, discotecas e noite. À primeira oportunidade, dá-se uma machadada num espaço ou noutro, sempre com a desculpa de que incomoda os vizinhos e traz mau ambiente. O problema é que quando se fecha a porta de um bar de qualidade, que cumpre as regras e mantém um ambiente saudável abre-se a janela para mais uma festa ilegal ou para confusão nas ruas. Acho que ainda não percebemos que a noite e as festas nunca vão deixar de existir. Se não é aqui, é ali. As pessoas gostam e precisam de se divertir. Ponto. O Mini Eco na Rua da Alfândega, um dos bares mais icónicos da Madeira, referência nacional de boa música e excelente ambiente, viu o seu horário de funcionamento reduzido para as 02h da manhã por imperativos legais híbridos, no mínimo discutíveis. Um espaço onde a diversão é controlada e as regras são feitas cumprir como já várias vezes testemunhei. Não quero acreditar que no Funchal se instalou uma monocultura onde só os hotéis e alojamentos locais interessam e se vai delapidando património essencial para a promoção da ilha e não menos importante para a satisfação de necessidades dos que cá vivem. O Mini Eco é há 15 anos um garante de uma noite segura e de qualidade incontestável, devia ser protegido e acarinhado. É triste vê-lo a ser tratado desta forma. #saveminieco
Todas as semanas aparecem novos casos do instalado politicamente correto. Desta vez foi nos Estados Unidos da América, pátria mor das minorias e das sensibilidades. Um pai queixou-se sobre a nudez de uma escultura de Miguel Ângelo, referência mundial de arte renascentista. Parece que levaram as crianças a uma exposição e alguns progenitores sentiram-se ofendidos pela exposta pornografia e a diretora da escola foi responsável pela visita foi de imediato afastada do cargo. Num tempo em que sites de sexo explícito são permitidos à vista de todos na internet, onde miúdas menores expõem os seus corpos no instagram e onde se hasteiam bandeiras em defesa da liberdade, vemos a estupidez humana ser defendida de uma forma obscena e quadrada. Pergunto-me que mundo é este para onde caminhamos a passos largos, onde livros que fizeram parte da juventude de tantos como “Os Cinco”, são enviados para as catacumbas das bibliotecas por conterem supostamente linguagem inapropriada e onde quem os quer consultar tem que justificar o motivo para ter acesso a eles. É o mesmo mundo que recrimina brancos que usam rastas por ser considerado apropriação cultural e onde o Dj Joey Negro tem que alterar o seu nome de uma carreira inteira por não ter direito a colocar Negro no nome artístico. Onde as famosas obras literárias de Agatha Christie são editadas para remover linguagem potencialmente ofensiva. Sou só eu que acho que estamos a caminhar para o abismo?
A comédia e o humor são essenciais na nossa sociedade. Cada vez é mais difícil brincar com o que quer que seja que logo se levanta alguém incomodado com isto ou aquilo. Já não se podem contar anedotas de pretos, de chineses, de alentejanos, gordos ou loiras. Tudo é alvo de censura. Felizmente que no meio de tamanha palermice que vai transformando a sociedade numa historia chata e sensaborona vão aparecendo aqui e ali, exemplos de quem à conta da brincadeira vai granjeando sucesso e admiradores. É o caso das meninas da Fritel, na cafetaria do Madeira Shooping. Com a sua criatividade genuína e uma boa dose de disposição alegre, começaram a gravar vídeos na rede social Tik Tok, brincando com situações do dia a dia que vamos assistindo nos cafés. De repente, tornaram-se um fenómeno da ilha e já muito se vai falando também no continente. É difícil resistir a uma estridente gargalhada, ao assistir a um dos muitos vídeos que circulam pela internet. Ao sotaque madeirense juntam situações que se passam um pouco por todo o lado, fazendo troça até delas próprias e mostrando aos mais cinzentos que rir é o melhor remédio. Um bom exemplo de que muitas vezes não é preciso investir muito para encontrar produtos de sucesso, é só necessário encontrar quem saiba fazer e tenha um jeito natural. Parabéns meninas da Fritel pela capacidade de nos fazer rir num tempo em que tudo nos parece querer fazer chorar.
Quando achamos que há certas coisas que nunca irão mudar e permanecerão intactas para sempre aparece uma “Kings League” para nos mostrar o contrário. O futebol, considerado o desporto rei por ser o que mais fãs arrasta por todo o mundo é também dos mais conservadores. É difícil, aos dias de hoje, justificar certas regras, que podiam e deviam ser alteradas para que o jogo fosse mais agradável, justo e fluido. O que é certo é que ele lá vai caminhando, com cada vez mais admiradores e gerando dinheiro atrás de dinheiro. No meio deste monstro que é a industria do futebol, surgiu um produto, lançado pelo ex jogador do Barcelona Piqué e companhia que em pouco tempo atingiu patamares de notoriedade dignos de registo, tendo inclusivamente enchido o famoso Camp Nou para assistir à tão aguardada final. E o que é então a “Kings League”? É um torneio de futebol de sete, com transmissão nas redes sociais, com duração de 40 minutos e onde um jogo nunca pode terminar empatado. As regras apostam tudo na interação entre o que se passa na quadra e quem assiste em casa. Uma das mais excêntricas é que cada equipa recebe cinco cartas de ouro no início de cada jogo, mas não sabem o que está dentro delas. Cada uma delas tem uma particularidade capaz de alterar o rumo do jogo. Um penálti instantâneo, roubar a carta ao adversário, expulsar um elemento da equipa contrária durante dois minutos, cada golo marcado no minuto seguinte ao lançamento da carta valer por dois ou um Joker que permite escolher qualquer uma das regras anteriores. Um autentico sucesso que promete mudar o paradigma do desporto.