A minha família sofreu um AVC
Foi no dia 20 de fevereiro de 2020… nas televisões circulavam notícias relacionadas com acontecimentos que antecederam a declaração por parte da OMS de pandemia… e na minha família todos nós fomos surpreendidos com evento de doença sem qualquer tipo de aviso prévio.
O AVC entrou na nossa família e nas nossas casas e deixou um dos nossos familiares mais fortemente atingido. Após uma entrada direta para a sala de emergência no serviço de urgência, seguiram-se três semanas de cuidados de intensivos e mais um período na unidade do AVC. Ao longo deste período o sentimento de perda estava muito presente nas nossas mentes e acredito profundamente que a nossa força de querer e o extraordinário trabalho realizado por todos os profissionais de saúde nos diferentes serviços do Hospital Dr. Nélio Mendonça foi determinante e decisivo para que ao fim de quase dois meses de internamento no HNM o meu familiar desse entrada na Unidade Dr. João de Almada para entrar numa outra fase de recuperação do AVC.
Nesta altura já estávamos em plena pandemia e as medidas nas unidades de saúde eram muito claras e tinham como principal objetivo proteger os mais frágeis.
Nesta fase foi muito importante o sentimento de confiança que depositamos nos profissionais de saúde. Sabíamos que o nosso familiar estava bem entregue e que apesar de não o vermos fisicamente estávamos a protegê-lo.
A recuperação do AVC hemorrágico foi em algumas coisas semelhantes aos avanços e recuos da COVID-19 na Madeira… e com a primeira fase de retoma de alguma atividade o meu familiar inicia também uma nova fase de recuperação.
Passado mais de três anos, hoje reconheço que todos nós na nossa família, acabamos por sentir algumas das sequelas colaterais do AVC.
Passamos diferentes fases desde a negação, compreensão até a aceitação….e é aqui que entendo que pode estar a continuidade e o sucesso da recuperação de um doente de AVC.. mas ATENÇÃO a ACEITAÇÃO deve ser acompanhada de AÇÃO e para isso é muito importante a família participar na definição do plano de recuperação definido pelos profissionais de saúde.
Em família devemos nos apoiar mutuamente e manter o foco da recuperação e de manutenção das funções entretanto recuperadas, e será assim até ao resto das nossas vidas.
Um dos sucessos da recuperação de um doente com AVC é a força emanada pela sua família e amigos.
Não menos importante é também a capacidade de partilhar preocupações e participar no plano de saúde definido pelos profissionais de saúde.
Todos os doentes de AVC são diferentes... existem várias situações que determinam a ativação de diferentes protocolos clínicos... por isso se é familiar ou amigo de algum doente de AVC tente incentivar e promover as seguintes atividades:
APOIAR é fundamental e deve fazer parte das nossas rotinas diárias.
CONFIAR nas decisões clínicas.
PARTICIPAR ativamente na definição do plano de saúde de recuperação definido para o
ACOMPANHAR o doente de AVC nos diferentes momentos da sua recuperação.
INCENTIVAR o doente de AVC a cumprir o seu plano de recuperação definido pelos profissionais de saúde;
REFORÇAR todas as conquistas no processo de recuperação longo, minucioso e interminável.
PARTILHAR experiências vividas entre doentes, amigos e familiares… mas nunca devemos comparar situações, pois todos os episódios de AVC são diferentes apesar de que os olhos dos populares parecem ser todos iguais mas não são.
AGRADECER - é importante agradecer a todos os profissionais de saúde, e a todas as pessoas que participam no processo de recuperação.
Uma última nota para todos os profissionais de saúde com os quais já nos cruzamos ao longo destes anos.
São mais de 100, entre médicos, de inúmeras especialidades, enfermeiros, nutricionistas, neuropsicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes operacionais, assistentes técnicos, tripulantes de ambulância, entre outros que eventualmente não estejam a ser mencionados.A TODOS MUITO OBRIGADO.
Ana Nascimento