Tudo em todo o lado ao mesmo tempo
Não, este artigo não é sobre o filme vencedor de 7 óscares na edição de 2023. É, sim, sobre a cultura do imediatismo em que vivemos. Lidamos, diariamente, com uma enxurrada de informações proveniente de várias fontes. Como estamos permanentemente ligados/as, seja através de smartphones, tablets ou computadores, tendemos a reagir e a responder a tudo o mais rapidamente possível, mesmo que tal não nos seja exigido.
O nosso cérebro passa a funcionar de forma automática, tendo que ser veloz na sua ação. A paciência rareia. O passado é rapidamente ultrapassado, e o futuro torna-se quase obsoleto, devido à grande velocidade a que tudo muda. Vivemos num instante esticado no tempo, mas acabamos não vivendo o presente, que passa, por vezes, rápido e despercebido. Saltamos de momento em momento, que nem baratas tontas.
Se nos deixamos envolver completamente pelo imediatismo, vamos perdendo a capacidade de planear, de desenvolver relações saudáveis e não superficiais, e tomamos decisões sem refletir. Agimos como se estivéssemos numa unidade de produção, onde os resultados têm que ser visíveis a um ritmo avassalador, por vezes sobre-humano.
A comparação é uma constante no mundo virtual, onde se vive para likes, avaliando o valor pessoal em números virtuais que, arrisco-me a dizê-lo, nunca correspondem à realidade. E se não alimentamos a máquina, sentimos um grande vazio. Sentimo-nos sós. Falta-nos o tempo para olhar nos olhos, conhecer pessoas, estabelecer laços reais e conversar calmamente, assim como para estarmos connosco em paz e tranquilidade, sem sentimento de culpa por não estarmos “a fazer algo” ou “a partilhar algo”.
Claro que tudo isto tem um grande impacto na saúde mental. Desde ansiedade, baixa autoestima, depressão, passando por irritabilidade, falta de paciência, intolerância com o que é diferente, entre outros.
As crianças, expostas cada vez mais cedo a este excesso de informações, acabam reproduzindo os comportamentos da família e de outras pessoas com as quais convivem. Tornam-se mais ansiosas, impacientes, sofrendo de baixa autoestima pela comparação com padrões irrealistas e seguindo ídolos duvidosos nas redes sociais. Muitas vezes, falta o colo, a conversa e a consciência emocional para que não se tornem escravas deste imediatismo e das tecnologias. Às vezes, as crianças mais sensíveis são desvalorizadas quando expressam as suas angústias, como se fossem “baboseiras”. É fundamental dar espaço para as crianças serem crianças, escutá-las e orientá-las de forma saudável e amiga, sem julgar. Fazê-las perceber que, acima de tudo, é importante que se respeitem e que respeitem quem as rodeia, e que são lindas na sua unicidade. Mas, acima de tudo, precisamos de dar o exemplo, enquanto adultos.
Esta orientação e consciencialização para que as tecnologias não se sobreponham ao Ser humano, deve envolver todas as pessoas disponíveis para o fazer, sejam pais, professores/as, técnicos/as ou terapeutas. Apenas em conjunto podemos equilibrar os tempos estranhos e perigosos que a humanidade está a viver.