Embaixada portuguesa em Caracas adverte sobre riscos de desigualdade de género na transição digital
A Embaixada de Portugal em Caracas, Venezuela, expressou a sua preocupação pelo estado atual da transição digital e advertiu que há riscos de que se perpetuem as desigualdades de género.
"Na realidade, existe ainda o risco de a transição digital poder continuar a perpetuar a desigualdade de género. De facto, é preocupante constatar que estas desigualdades são evidentes no mundo digital", disse o chefe de missão adjunto, Pedro Ataíde.
O diplomata falava numa mensagem divulgada em vídeo, no Youtube, que teve como propósito assinalar localmente o Dia Internacional da Mulher.
"Contrariando a tendência do mundo contemporâneo, o mundo digital parece ser maioritariamente masculino", frisou o diplomata.
Segundo Pedro Ataíde, "defender a redução das desigualdades perfila-se como algo crucial" para em 2030 poder reivindicar a missão cumprida de um dos objetivos da Agenda das Nações Unidas.
A mensagem do diplomata teve como propósito homenagear as mulheres e as organizações que defendem a integração, a igualdade no acesso à tecnologia e uma melhor literacia digital.
"O mundo de hoje está marcado pela revolução digital, que é determinante para o crescimento dos países e para a atenuação das assimetrias sociais e a redução das desigualdades. Os avanços na tecnologia digital oferecem novas soluções para resolver os desafios humanitários (...) 2030 está a aproximar-se rapidamente. A igualdade de género é um objetivo central da estratégia que defendemos", explicou Pedro Ataíde.
O chefe de missão da embaixada lusa em Caracas, assinalou ainda que "a realidade portuguesa" o deixa "cheio de esperança", vincando que "Portugal é um dos cinco países europeus com o maior número de mulheres em áreas científicas e de engenharia".
"De acordo com dados do Eurostat, em 2021, 51% dos cientistas de engenharia em Portugal eram mulheres, um valor significativamente superior à média da União Europeia, que é de 41%. Portugal é também o país da OCDE com o maior número de mulheres no ensino superior nas áreas das ciências, 57%, ultrapassando a média da OCDE de 39%", disse.
"O bom exemplo que Portugal demonstra, e do qual me orgulho muito, é o resultado dos esforços das mulheres que se afirmaram na sociedade portuguesa ao longo do século XX, que exigiram e lutaram por um papel ativo no mundo da ciência, política, cultura e conhecimento", sublinhou.
O vídeo homenageia a poetisa, escritora e política Natália Correia, açoriana, "uma das feministas portuguesas" mais conhecidas e cujo centenário de nascimento se celebra este ano.
Da homenagem fez parte uma entrevista com a escritora portuguesa Filipa Martins, autora de uma biografia sobre Natália Correia.
Sobre Natália Correia, a embaixada diz que foi uma ativista social, autora de uma extensa e variada obra traduzida em várias línguas, que abrange vários géneros, desde a poesia à novela, ao teatro e ensaio, e que inclusive é a autora da letra do Hino da Região Autónoma dos Açores.
"Natália Correia foi responsável pelo estudo e compilação de muita da poesia portuguesa, especialmente da poesia medieval. Sendo Portugal um país de poetas, a sua obra é decisiva para a afirmação da poesia portuguesa. Ficou na história pela sua personalidade livre de convenções sociais, pela sua polémica e irreverência característica, e os críticos descrevem-na como uma poetisa com uma obra de rara beleza e inteligência", disse Pedro Ataíde.
O diplomata sublinhou ainda que "amante da liberdade, foi uma lutadora pela democracia em Portugal, tendo sido perseguida pelo regime autoritário".
"A sua defesa da liberdade de expressão conduziu a uma pena de prisão suspensa de três anos. No entanto, testemunhou a censura e apreensão de muitos dos seus livros. Na política, tornou-se conhecida pela sua defesa dos direitos das mulheres e foi deputada de 1979 a 1983, e de 1987 a 1991", disse.