Movimento "Nós Somos Igreja" defende suspensão preventiva de suspeitos de abuso
O Movimento "Nós Somos Igreja" defendeu hoje ser "absolutamente fundamental" a suspensão preventiva de sacerdotes suspeitos em casos de abusos sexuais de menores, considerando que o clero não pode estar acima da lei civil portuguesa.
"Não pode haver diferenças entre um padre e um treinador, só para dar um exemplo", disse à agência Lusa Maria João Sande Lemos, em representação do movimento.
A mesma fonte recordou que o movimento lançou no dia 28 de fevereiro uma carta aberta aos bispos portugueses, com três propostas concretas, elencando medidas a curto e médio prazo.
"Tomámos a iniciativa de escrever esta carta à Conferência Episcopal a propor alterações", reiterou Maria João Lemos, para quem os bispos encobridores de casos de abuso devem ser "imediatamente suspensos".
No documento, intitulado "Carta aos bispos da Igreja em Portugal sobre as mudanças que todos necessitamos de fazer", o movimento afirma que o momento é de "uma tristeza imensa" e de "uma enorme revolta contra os abusos praticados e contra o seu encobrimento".
Defende, por isso, que sejam criados, de imediato, mecanismos de apoio às vítimas, bem como uma nova comissão independente, à semelhança da anterior, que prossiga o trabalho, continue a receber denúncias de abusos e a acompanhar casos, composta por pessoas "de reconhecida competência, corajosas, íntegras, com capacidade de liderança e maioritariamente externas à Igreja, especialmente capazes no âmbito das ciências sociais, para dar sequência ao processo".
O movimento propõe também que, a curto prazo (até 60 dias), a atividade das comissões diocesanas sobre abusos seja recentrada exclusivamente na prevenção primária e formação, de acordo com um mandato claro e com um programa discernido construído por "pessoas devidamente habilitadas" e que os bispos encobridores, "a existirem", se retirem de funções.
Outra medida passa pela suspensão preventiva de "todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja", sempre que haja indícios "minimamente credíveis" sobre abusos e, quando considerados culpados à luz da moral cristã, independentemente de eventual processo judicial (...), "passando ao estado laical".
"Este é o tempo do reconhecimento de uma ineludível culpa intensa e, por isso, o tempo de pedir perdão às vítimas, cujas vidas foram danificadas por atos e omissões. Este é o tempo da nossa grande vergonha e, por isso, da expiação do grande pecado organizado", lê-se no documento.
O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, afastou no domingo a suspensão de alegados padres abusadores de menores, sem que haja "factos comprovados, sujeitos a contraditório" e um processo canónico feito pela Santa Sé.