ONG venezuelana registou 261 mortes atribuíveis a apagões eléctricos em um ano
Na Venezuela, entre janeiro e dezembro de 2022, morreram 261 pessoas por causas "atribuíveis" a falhas no abastecimento de eletricidade nos centros estatais de saúde, segundo dados divulgados hoje por uma ONG venezuelana.
Os dados fazem parte do relatório Inquérito Hospitalar Nacional (IHN) elaborado pela Médicos pela Saúde (MPS) e dão conta que fevereiro e setembro, cada um com 49 falecimentos, foram os meses com mais "mortes atribuíveis" aos apagões elétricos, seguindo-se maio (39), dezembro (34) e outubro (20).
Por outro lado, em março foram registados 11 casos, 17 em abril, 19 em junho, 14 em julho e 9 em novembro. Em janeiro e agosto de 2022 não se registaram casos.
"Damos sempre ênfase aos falecidos associados a falhas de energia uma vez que este é um valor que deveria estar sempre em zero ou muito próximo de zero", explica o relatório.
Segundo a MPS, nos últimos três anos foram instalados geradores elétricos de emergência "em unidades críticas, sob a figura de ajuda humanitária ou doações", uma estratégia que "tenderá a diminuir com o tempo, dado que estas requerem manutenção e combustível e, são de uso apenas para situações de curta duração".
"Enquanto não houver uma política de investimento sistemática e a médio prazo, não só a nível hospitalar, mas também a nível nacional, continuaremos a assistir a acontecimentos negativos e a uma dependência de condições externas", sublinha.
Segundo a MPS "os cuidados de saúde na Venezuela continuam a apresentar características típicas de países com graves dificuldades, e apesar de alguns aspetos mostrarem alguma melhoria, a situação geral continua a ser crítica, constituindo mais do que uma situação conjuntural, uma situação de cronicidade ou 'status quo'".
O relatório regista, em 2022, um aumento modesto médio de 36,9 camas disponíveis nas urgências de cada hospital, com relação às 35,1 de 2021 e uma média de 3,6 salas de operações (3,5 no ano anterior), alertando, no entanto, que apenas 50% das salas de operações estão operacionais.
"Dadas as longas listas de espera para cirurgias eletivas em todo o país, é evidente que a capacidade que temos é insuficiente e melhorá-la continua a ser uma dívida significativa. Num cenário de défices como o que existe, parece não ter muito sentido construir algo novo, mas sim atribuir recursos para recuperar espaços já existentes", sublinha.
O INH refere que 60% dos hospitais não têm água de maneira contínua, e que os sistemas de distribuição atuais para estes serviços se baseiam em camiões-cisterna.
"(...) Sabemos que a qualidade da água é uma fonte de infeções associadas ao setor hospitalar e as falhas de energia implicam também irregularidades no funcionamento dos equipamentos e, em alguns casos do não funcionamento, o que inevitavelmente se traduz no encerramento dos serviços", explica.
Sobre o capital humano, o relatório afirma que "a tendência no pessoal de saúde: residentes, especialistas e enfermeiros, na área de urgências, tem permanecido estável desde 2019".
"No caso dos residentes, viu-se um aumento modesto de 10,1 em 2019 para 11 em 2022", sublinha.
O relatório afirma ainda que foram registados altos índices de falta de abastecimento de medicamentos e suprimentos médicos, sublinhando que a situação melhorou nos últimos anos.
Entre janeiro e dezembro de 2022 a média anual de desabastecimento nas urgências foi de 45,9%, inferior aos 51,1% registados em 2019.
A escassez nas salas de operações foi de 70,7% em 2019 e de 70% em 2022.
A MPS foi criada em 2014 para contabilizar o número de feridos que chegavam aos hospitais durante os protestos no país, mas decidiu depois registar a situação do sistema de saúde venezuelano.