Demitiu-se membro mais influente do organismo do Vaticano de luta contra pedofilia
O membro mais influente do organismo do Vaticano responsável pela luta contra a pedofilia na Igreja Católica demitiu-se.
O padre Hans Zollner "pediu para ser dispensado das suas funções", disse hoje o presidente da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, o cardeal Sean O'Malley.
A renúncia das funções desta comissão, aceite pelo Papa Francisco em 14 de março, é justificada oficialmente com a recente nomeação do prelado para outras funções - Hans Zollner é agora consultor da diocese de Roma para as questões da luta contra as agressões sexuais.
Jesuíta como o Papa, Hans Zollner recorreu a uma linguagem forte e pouco diplomática para denunciar as disfunções da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, criada em 2014.
"Durante o meu trabalho na comissão notei problemas que necessitam de ser resolvidos com urgência e que me impossibilitam de continuar a minha missão", afirmou Zoller num comunicado publicado na rede social Twitter, revelando que a sua inquietude "cresceu em relação à maneira como a comissão agiu para cumprir a sua missão", a da "proteção das crianças e das pessoas vulneráveis".
O padre, próximo do Papa, apontou "a falta de clareza no processo de seleção dos membros e funcionários" da comissão, a "responsabilização financeira inadequada" e "a informação insuficiente e a comunicação vaga" em torno dos processos de tomada de decisão.
"São estes problemas estruturais e práticos que levaram a minha dissociação da comissão", frisou.
A Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores é composta por peritos religiosos e laicos, tendo sido integrada em 2022 na Cúria, o governo da Santa Sé.
Em 2016 e 2017, dois dos membros da comissão, o britânico Peter Saunders e a irlandesa Marie Collins, demitiram-se alegando falta de cooperação do Vaticano.
Apesar das medidas tomadas pelo Papa desde a sua eleição em 2013, como o levantamento do segredo pontifício sobre a violência sexual do clero ou a obrigação da denúncia de casos, as associações de vítimas consideram que as ações concretas para combater o flagelo continuam a ser insuficientes.