Análise

Uma questão de percepção

Faltam as bases, os pilares em que deve assentar um Estado moderno

Passados quase 50 anos do 25 de Abril merecíamos melhores políticos, muito melhores. Políticos que nos tivessem conduzido ao desenvolvimento integral, apostado na Educação, na Saúde, na famigerada Habitação, que tanta tinta tem feito correr nas últimas semanas. Políticos que olhassem menos para os respectivos umbigos, para o círculo de amigos cúmplices e que colocassem a causa pública como determinante desígnio da carreira (uma utopia). Que fomentassem acordos de regime com o objectivo de cimentar soluções douradoras nas áreas-chave da nossa vivência. Passado meio século do dealbar da democracia, basta olhar para as estatísticas e não só para concluirmos o quanto fomos prejudicados por incompetência, guerras de capoeira e jogos de poder protagonizados por profissionais da política e autênticos ‘erros de casting’. Não nos chegam as modernas redes viárias nem os projectos megalómanos de utilidade duvidosa. Faltam as bases, os pilares em que devem assentar todas as sociedades evoluídas e felizes. Sim, estamos melhor do que há 50 anos. Pudera! Mas precisamos de mais e dispensamos oportunidades perdidas que já nos lesaram em muitos milhões. O que se passa na comissão de inquérito da Assembleia Legislativa motivada por uma entrevista de um antigo alto quadro do PSD-M é o exemplo acabado do que nunca deveríamos permitir: o carreirismo público de personalidades que nada são fora da política. Arrastam-se nos corredores do poder anos e anos, com tudo o que isso tem de mau para a essência da democracia, que é a alternância. O que ganha a população com este circo onde se confundem propositadamente denúncias factuais com opiniões de café? Alergia aos políticos. Em ano de eleições, este tipo de iniciativa abraçada pelo PS-M revelou-se um fracasso perante as expectativas iniciais, por culpa dos próprios deputados, que foram para o embate mal preparados e sem o trabalho de casa feito. Como disse o presidente da SEDES, o socialista Álvaro Beleza, “para ser alternativa ao outro não preciso destruir o outro”. Poucos presidentes do PS-M perceberam isso, numa terra que tem obra para mostrar. O desenvolvimento económico é evidente. Não há manifestações de professores, de enfermeiros, urgências paralisadas nem escolas fechadas. O desemprego tem vindo a diminuir, o RSI também. E nunca houve tantos turistas nas ruas. As instituições funcionam. Está tudo bem, então? Não. Os mais desfavorecidos e socialmente excluídos continuam a esperar anos por uma cirurgia, a igualdade de oportunidades profissionais não chega a todos, os jovens têm uma grande dificuldade em se autonomizarem, muitos não conseguem prosseguir os estudos superiores no exterior, há falta de lares dignos para os que não podem viver a sua velhice em casa. Há também o drama demográfico, a preocupante desertificação da costa Norte e a falta de políticas sérias de apoio à natalidade. A lista é grande e ocuparia o espaço desta página.

Cabe, por isso, à oposição e aos partidos do arco do poder apresentaram e debaterem-se por alternativas credíveis, sustentadas, estudadas, que vão de encontro aos anseios de uma população cada vez mais fustigada pelo custo de vida exorbitante. Percam menos tempo com iniciativas estéreis, pensadas para ocupar espaço mediático. Com o actual estado da arte, a coligação PSD/CDS não terá grande dificuldade em averbar uma vitória serena nas próximas eleições. A percepção pública – ao contrário do que acontece no continente – não dá sinais de fim de estação para o actual governo. E a culpa nunca é dos eleitores.

2. O Governo da República deveria avançar de imediato para uma baixa dos impostos para famílias e empresas. Essa sim seria uma medida que faria a diferença na vida dos consumidores portugueses. Os que já chegavam ao fim do mês com os tostões contados, com o aumento exponencial dos preços dos bens essenciais chegam ao fim do mês com a conta a descoberto. O pacote para mitigar os efeitos da inflação, anunciada na sexta-feira, é manifestamente insuficiente e puramente assistencialista. Se a prioridade deve de ir para as famílias mais pobres e vulneráveis, as da chamada classe média precisam também de ajuda. Com a subida das taxas do crédito à habitação, são muitas as que se encontram com a corda ao pescoço. A baixa do IVA para os bens do cabaz essencial – taxadas a 5% na Região - vai ter reflexo no bolso das pessoas? Aguardemos, expectantes…