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Governo diz que semana de quatro dias pode ser forma de reter talento em Portugal

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Foto PAULO SPRANGER /Global Imagens

O secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, defendeu hoje que o projeto-piloto dedicado à semana de quatro dias de trabalho pode representar um incentivo para reter trabalhadores em Portugal, e que "não é um capricho".

Em declarações à comunicação social após a apresentação do balanço da primeira fase deste programa, em Lisboa, Miguel Fontes assinalou que este projeto aborda "uma questão absolutamente central", que é a criação de ambientes de trabalho onde as pessoas se sintam mais valorizadas, mais reconhecidas e onde tenham condições para conciliar melhor a dimensão profissional com a dimensão pessoal e familiar".

"Isso hoje é uma exigência, nomeadamente dos trabalhadores mais novos, que têm uma exigência muito clara de querer trabalhar de forma diferente do que nós trabalhámos no passado e isso é fundamental para atrair talento, para o reter, seja à escala de país, seja à escala de organizações", defendeu o governante.

Segundo Miguel Fontes, o programa "não é um capricho" ou uma "questão menor", mas sim importante para a promoção de novas formas de organização de trabalho que motivem e comprometam os trabalhadores.

Registando que Portugal enfrenta um problema demográfico, o secretário de Estado assinalou que é preciso aportar pessoas que queiram vir trabalhar para Portugal e, nesse sentido, perguntou: "Não acham que este é um bom cartão-de-visita?".

Miguel Fontes acredita que a realização do projeto-piloto, que vai avançar para a segunda fase com 46 das 99 empresas inicialmente interessadas, consagra condições que podem aumentar a produtividade.

"Aquilo que eu só não acho muito avisado é termos este pensamento de primeiro vamos aumentar a produtividade, primeiro vamos crescer, e depois vamos pensar nisso. Não, porque isto são condições para aumentar a produtividade", disse.

"Se nós reduzirmos o absentismo, se nós tivermos colaboradores nas empresas e trabalhadores mais motivados, mais comprometidos, que partilhem mais do propósito, com objetivos claros, com novas formas de organização do trabalho, seguramente os resultados serão diferentes", insistiu, apontando que se configura, também, como uma oportunidade para fazer "reengenharia de processos".

Durante a sua apresentação no encerramento da apresentação do relatório, Miguel Fontes recordou o período em que foi diretor executivo da Startup Lisboa, onde ficou com "a noção do que é esta questão de competir pelo talento", tendo destacado que este tipo de empresas não tem medo da inovação e de arriscar.

"Imaginem o que é uma 'startup', quando está a começar, que obviamente tem muita dificuldade em conseguir captar esse talento pelos recursos habituais, conseguir fazê-lo em competição com uma grande, com uma 'big corporate', com uma grande empresa. Não consegue pagar, obviamente, o mesmo salário, não consegue, obviamente, competir com os mesmos instrumentos e armas, mas a grande razão pela qual consegue competir é precisamente pelo propósito, é pelo sentido de construção, é pelo sentido de projeto", explicou.

Uma das principais razões apontadas por cerca de 10% das empresas que desistiram de continuar com este projeto-piloto diz respeito à necessidade de investimento e, segundo o secretário de Estado, o Governo não prevê criar linhas de apoio para esta transição -- nem durante do programa, nem após, caso se verifiquem bons indicadores de produtividade.

Durante o projeto, o Governo não quis financiar as empresas "porque seria uma variável que iria distorcer o próprio resultado do estudo" e que o poderia desacreditar, enquanto numa condição pós-projeto, "se os resultados vierem a ser positivos", tal prova que a alteração à forma de trabalho "é possível sem financiamento".

"Não seria razoável andarmos para trás", apontou, acrescentando que os recursos públicos são escassos e que "devem ser alocados àquilo que é essencial".

Se, por outro lado, os resultados forem menos positivos, Miguel Fontes pediu que não haja medo de inovar, mesmo que a inovação traga consigo o falhanço.

"Não custava tanto que por uma vez nós fôssemos capazes de sermos nós a liderar e que depois dissessem assim, 'hoje há uma realidade como na Europa e Portugal esteve na linha da frente, foi dos primeiros a fazê-lo'. "Por isso, não temos de ter medo, temos de ter a ousadia de avançar", afirmou.