Partido Comunista da Venezuela acusa Maduro de lavar as mãos do escândalo de corrupção
O Partido Comunista da Venezuela (PCV) acusou o Presidente de pretender "lavar as mãos" após nomear ministros e políticos alegadamente envolvidos em corrupção e instou as autoridades competentes a determinar a sua responsabilidade.
"Se a luta contra a corrupção for verdadeira e não apenas mais um 'show' de propaganda governamental, as instâncias públicas competentes devem iniciar uma investigação sobre a responsabilidade do Presidente da República nestes escândalos de corrupção" na petrolífera estatal, explica-se num comunicado divulgado esta quinta-feira.
Para o PCV "é inaceitável" que o Presidente "nomeie ministros, vice-ministros, presidentes e membros de comissões presidenciais para resolver a crise" na petrolífera, "e depois quando surgem escândalos de corrupção, provocados pelos órgãos e figuras por ele nomeadas, pretenda sempre lavar as mãos".
"Sempre que o PCV e setores da esquerda denunciavam as ações irregulares de ministros e altos funcionários governamentais, o próprio Presidente da República, nos meios de comunicação oficiais, saía em defesa destes funcionários, tentando silenciar qualquer tipo de crítica, dizendo que assumia pessoalmente a responsabilidade pelas ações desses personagens", salienta-se no documento.
Para os comunistas "os novos e graves factos de corrupção governamental são uma pequena amostra da profunda decomposição moral do Governo e da alta cúpula burguesa do Partido Socialista Unido da Venezuela [PSUV, o partido do Governo]".
O PCV acusa o Governo de gerir "a suposta luta contra a corrupção como se se tratasse de um problema de ordem interno do partido" e sublinham que, "de facto, as primeiras declarações sobre o tema ocorrem no marco de uma reunião de dirigentes do PSUV, o que dá alguns sinais de que (...) podemos estar perante uma estratégica de ordem pré-eleitoral".
O PCV disse ainda que "a raiz do grave problema de decomposição na administração pública esta no regime de opacidade e desmantelamento de todos os tipos de controlos como forma de gestão governamental".
"A lamentável lei 'antibloqueio' aprovada ilegalmente pela [extinta] Assembleia Nacional Constituinte, que atribui poderes supraconstitucionais ao Executivo, é o principal instrumento utilizado para dar poder a estas máfias corruptas que têm contado com plena proteção da cúpula governamental, inclusive sob o argumento de serem 'heróis' na luta de evsão às sanções criminais [internacionais]", acrescentou.
O PCV denunciou que vários trabalhadores venezuelanos foram submetidos a processos judiciais "por denunciar a corrupção na administração pública", e pede a libertação imediata dos empregados petrolíferos Aryenis Torrealba e Alfredo Chirinos.
Por outro lado, explicou que é a terceira vez que o Presidente, Nicolás Maduro, anuncia uma "reestruturação de alto nível" na indústria petrolífera e que as reestruturações anteriores terminaram em escândalos de corrupção, processos judiciais de funcionários, muito alvoroço mediático, mas escassa informação sobre os factos descobertos e impunidade.
O PCV diz que as máfias corruptas fizeram desaparecer 3.000 milhões de dólares, que foram detidos donos de grandes empresas alegadamente vinculados a um esquema de saque na PDVSA e também membros do PSUV, "desmontando o discurso de que o país não conta com recursos para aumentar salários, nem para atender a grave crise nos serviços públicos".
"Alertamos que apenas estamos presenciando a ponta do icebergue de um problema muito profundo e grave que está a corroer a sociedade e que funciona à custa dos nossos direitos a salários e condições de vida decentes", sublinha-se no comunicado.
Na semana passada, a Polícia Anticorrupção da Venezuela anunciou estar em curso uma investigação que envolvia funcionários públicos da indústria petrolífera, do sistema judicial e de alguns municípios.
O Ministério Público venezuelano nomeou cinco procuradores para investigar o envolvimento de altos funcionários públicos em atos de corrupção, tendo sido já efetuada à detenção de mais de uma dezena de pessoas.