Ser oposição na Madeira
As declarações de Álvaro Beleza, presidente da Associação SEDES, na sua visita à Madeira para inaugurar as instalações da associação, não deixaram os socialistas da Madeira indiferentes. Penso mesmo que causaram indignação a todos aqueles que dedicaram a sua vida a lutar por mais e melhor democracia e desenvolvimento, assumindo posições contrárias ao regime com todas as consequências que daí advieram.
A evolução que se constata na Região, sobretudo após a integração na União Europeia, não incomoda, nem dificulta a atividade da oposição. Se fosse uma boa governação a impedir a alternância, não tinha mal nenhum. Infelizmente não é disso que se trata.
Não é fácil ser oposição na Madeira por outras razões que o socialista Álvaro Beleza desconhece ou não quer saber porque está confortavelmente distante e provavelmente olha a Madeira como turista.
E posso enumerar algumas. Historicamente, nunca foi e, atualmente, continua a ser difícil fazer oposição na Madeira:
Porque o PPD constituiu, no dealbar da autonomia, como seu aliado o Bispo, que promovia nas igrejas o partido do poder, enquanto ostracizava e saneava todos os sacerdotes que não alinhavam com o regime;
Porque tomou como seu meio privilegiado de comunicação um jornal pago com o erário público para a sua propaganda, durante décadas, enquanto vilipendiava todos os outros meios de comunicação livre;
Porque eram usados todos os expedientes para manipular as pessoas, incluindo a ameaça de suprimir as reformas dos pensionistas se estes votassem noutro partido que não o PPD, tendo como aliados instituições privadas;
Porque se utiliza(va) o medo, a descredibilização e a chantagem para calar os opositores;
Porque os cidadãos que se atreviam a figurar em listas da oposição, ou militavam noutros partidos, eram marginalizados, desde que não fossem de classe privilegiada, e podiam ter os seus empregos em risco e, assim, ao longo de décadas, ou as pessoas calavam, ou emigravam ou assumiam com coragem as consequências;
Porque nunca se promoveu a participação cívica das pessoas e a partilha de informação isenta, extinguindo-se até as associações de estudantes;
Porque sempre se instrumentalizou os organismos públicos de modo a servir o regime e a beneficiar quem o servia;
Após décadas de práticas como as descritas, conjugadas com a manutenção do mesmo partido no poder (algo inédito em Democracia) levou a um empobrecimento participativo dos cidadãos na coisa pública e à concentração de grande parte da massa crítica regional num único partido, com custos para a Democracia e para a Região.