O NÓS e o Outros
A verdade é que os projectos dos partidos do arco do poder são cada vez mais iguais
A política seria a ciência do governo das nações. Os políticos seriam aqueles cidadãos que abraçariam uma causa pública e dedicar-se-iam a promover acções no sentido de levar a bom termo uma sociedade equilibrada e a manutenção dos bens e serviços públicos. Os detentores do poder político devolveriam à sociedade bem-estar adequado em termos de qualidade e quantidade possível nas áreas da segurança, saúde, educação, justiça, etc.
Para isso, num regime democrático, aos cidadãos é-lhes proporcionada uma forma de escolherem por quem acharem melhor para o desempenho de tais funções. Daí, constituírem-se partidos que apresentam ao eleitorado um projecto para a sociedade. Os cidadãos, por seu lado, analisam e votam qual o seu projecto favorito. O resultado obtido será o projecto político a desenvolver durante o período que medeia dois actos eleitorais para os mesmos órgãos.
Durante este período, o(s) partido(s) vencedor(es) vão apresentando e implementando soluções para concretizar o tal projecto votado. No final do período mandatado para governar, novo acto eleitoral permite julgar o desempenho da actuação. Quem achou que o desempenho foi bom, continuará a votar no mesmo. Quem não achou mudará para aquele que entender que melhor desempenhará o papel de construir uma sociedade mais equilibrada, mais justa, mais o que cada um quiser.
A verdade é que os projectos dos partidos do arco do poder são cada vez mais iguais. Tempos houve, em que tínhamos projectos de sociedade “radicais”, tanto à esquerda como à direita.
Por isso, cada vez mais vejo o NÓS – partido do poder – e o OUTROS – partido(s) da oposição.
O NÓS só pensa no próximo acto eleitoral. Para isso, vai sobrecarregando a cada vez mais pequena classe média, a única que sustenta tudo isto. Por isso, vão aumentando os impostos que o NÓS vai redistribuindo, por um lado, junto dos mais amigos e, por outro lado, a seu bel-prazer e critérios duvidosos, por um alargado leque de cidadãos que lhe garante uma base eleitoral interessante.
O OUTROS lá vai combatendo. Mas, por vezes duma forma atabalhoada, sem nexo, porque não há projecto ou capacidade ou vontade. Quando há inversão de detentores do poder, os discursos são semelhantes, mesmo que mudem os actores. Aquilo que ontem um defendia com unhas e dentes, hoje, pelo menos na oratória, considera minudências…
É o desencanto. Afinal, o que há é o NÓS e o OUTROS! E, sempre, os mesmos a pagar, enquanto a justiça adormentada, com a complacência e/ou concordância de ambos, condescende com a impunidade e a imunidade!