África quer menos burocracia do Banco Mundial na implementação de projetos
O Banco Mundial quer mudar a sua missão em África, focando-se no combate à pobreza e às desigualdades sociais e criação de empregos qualificados, mas o continente quer menos burocracia na implementação de projetos, disse hoje fonte oficial.
A afirmação foi feita à imprensa, na cidade da Praia, pelo vice-primeiro-ministro Cabo Verde, Olavo Correia, na qualidade de presidente do African Caucus 2023, e no final de uma reunião dos ministros das Finanças de África e do Grupo do Banco Mundial.
Cabo Verde foi escolhido em 2022 para presidir e ser sede do African Caucus 2023, reunião anual que se realiza desde 1963 e que junta os ministros das Finanças e do Planeamento e governadores africanos dos bancos centrais junto do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Grupo Banco Mundial.
Segundo o também ministro das Finanças de Cabo Verde, os governantes africanos estão a discutir a "mudança do ponteiro" naquela que é a missão do Banco Mundial em África, que vai passar a ser focada no combate à pobreza, à pobreza extrema e às desigualdades sociais e na criação de empregos qualificados e bem remunerados para os jovens e para as mulheres.
"O grande desafio que existe em África hoje tem a ver com a criação de empregos qualificados e bem remunerados, para os jovens africanos, para as competências africanas, para ficarem em África, e para criarem valor em África", frisou Olavo Correia.
Segundo o ministro cabo-verdiano, as discussões foram focadas nos desafios de futuro, nomeadamente a transição energética, edificação de uma economia de baixo carbono e circular, transição digital e necessidade de diversificação da economia africana.
O governante avançou que o debate vai continuar em abril, nas Reuniões de Primavera do Banco Mundial e do FMI, para que os ministros das Finanças possam construir uma posição comum e dar mais força ao continente nas discussões com essas instituições financeiras.
"Se não houver uma posição comum, a nossa posição será fragilizada e não terá utilidade", alertou Correia, considerando que só com uma posição convergente, consistente e forte o continente pode ser ouvido.
Na reunião, em formato híbrido -- presencial e por videoconferência -, os ministros fizeram o ponto de situação do plano de trabalho com o Banco Mundial para apoiar os países africanos no enfrentamento dos desafios de desenvolvimento com os quais estão hoje confrontados.
E nessa mudança de visão, o presidente do African Caucus 2023 disse que é preciso igualmente um aumento de velocidade na implementação de projetos financiados por essas instituições.
"Muitas vezes, as instituições são muito burocratizadas, os processos demoram muito tempo, o ciclo de um projeto muitas vezes demora dois anos para começar, mais três ou quatro para implementar, estamos a falar de seis, sete anos, é demais", lamentou.
"Isso implica mudanças do lado do Banco Mundial, com processos menos burocratizados e mais céleres, mas também mudança nos países africanos, para que tenham instituições capazes de montar e de executar projetos com celeridade e no tempo certo", sugeriu.
Olavo Correia disse ainda que é preciso que os projetos sejam grandes, já que os pequenos muitas vezes não trazem vantagens para os países africanos. "Precisamos de projetos grandes, programáticos, que possam provocar grande impacto, fazendo escala", sugeriu.
Dizendo ainda que é preciso priorizar os setores impactantes, o porta-voz da reunião salientou que, além de financiamento, é importante resultados concretos para as populações, com mais emprego, mais qualidade de vida, mas sobretudo melhores oportunidades para os africanos.
"É com base nesses três critérios que nós vamos ter que ajustar o funcionamento do banco, a sua visão, a sua missão, o seu modelo operacional, mas também nós, os países africanos, temos obrigação de criar instituições capazes, sólidas, bem governadas, para poderem gerir projetos com grande impacto, com grande escala e que possam trazer melhores resultados", terminou.
A reunião foi assistida presencialmente ainda por uma delegação do Banco Mundial, chefiada pelo vice-presidente do organismo para África Ocidental, Ousmane Diagana, pela nova diretora para Cabo Verde, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mauritânia e Senegal, Victoria Kwakwa, e pela coordenadora residente em Cabo Verde, Eneida Fernandes.