Evite incomodar a Polícia
Não é a primeira vez que os lesados que reclamam são duplamente penalizados
Boa noite!
Esta noite, depois de jornada intensa de trabalho, fui impedido de chegar a casa a horas decentes de modo a poder jantar com a família, momento que é vital, mesmo sendo cada vez mais raro, e que tem significado acrescido quando se concretiza, mesmo para tal tenha que ser planeado em função da agenda.
Como é óbvio a nossa profissão tem imprevistos insondáveis e não raras vezes o que sonhamos como possível e desejável é adiado por uma boa causa, a da informação. Não foi o caso. Se assim fosse, não faria sentido partilhar este episódio digno de um filme de comédia, mas que ilustra na perfeição um mundo perigosamente ao contrário.
Por volta das 20 horas, pouco depois da saída garagem do condomínio onde o DIÁRIO tem as suas instalações, dou conta que a Travessa da Malta está estranhamente obstruída. À minha frente um carro parado, pertencente a uma senhora nossa conhecida, por sinal, vizinha do mesmo andar em que trabalhamos, que de imediato nos fez saber que pediu a intervenção da PSP, quando após meia hora de espera e de vários contactos nas redondezas não conseguiu encontrar o automobilista que inadvertidamente estacionou o carro em plena via pública, impedindo assim a saída e a entrada de viaturas no nosso parque de estacionamento.
Esperamos ambos pacientemente pela chegada da Polícia que tardava, levando a que entretanto, timidamente, surgisse o infractor, pronto para afastar o seu carro, mas a quem foi sugerido que aguardasse pelas autoridades – isto por recomendação feita telefonicamente pela própria PSP após novo contacto da queixosa a dar conta dos desenvolvimentos em relação ao inicialmente sucedido -, o que aceitou de bom grado, desculpando-se pelo transtorno causado.
O melhor estava para vir quando a PSP chega ao local. O senhor agente, cujo nome não quis saber, ouviu atenciosamente as explicações da senhora condutora, mas recomendou-lhe que não voltasse a repetir a prudência demonstrada, sob pena de ser alvo de eventual queixa do infractor por alegada obstrução à retirada do veículo antes da chegada das autoridades. Como assim? “E se eu que pedi a vossa intervenção não estivesse aqui quando vocês chegassem o que me acontecia?”, questionou a senhora. “Nada. Era serviço negativo!”, retorquiu o agente. E mais não digo.
Acredito que o infractor - que não foi multado por “razões éticas” - e com quem falamos com elevação não tenha agido para penalizar terceiros, nem para perturbar a ordem citadina. O certo é que durante quase uma hora impediu a circulação na via pública porque foi à sua igreja, na Rua Direita, à qual deve voltar assim que puder, para penitenciar-se da sua negligência.
Desconheço os procedimentos policiais neste tipo de casos, embora acredite que o educado senhor agente tenha seguido o guião estipulado.
Infelizmente nem sempre depende de cada um ser dono do seu tempo, propósito e razão, sobretudo quando na vida colectiva surge alguém descuidado, distraído ou mal intencionado que nos impede de fazer o que estava previamente combinado.
Admito que contado ninguém acredite embora haja testemunhas desta cena digna de apanhados e com a qual aprendemos uma lição: da próxima não vamos pedir auxílio policial quando a via pública estiver bloqueada com carros parados indevidamente. Poupemo-nos a incómodos. Mesmo que cheios de pressa ou em situação de emergência, aguardaremos pacientemente até que alguém surja para desimpedir a estrada, a quem faremos a devida vénia e exprimiremos gratidão eterna. Não vale mais a pena ficar com esta certeza que os lesados que reclamam à PSP são duplamente penalizados.