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Casos de tuberculose diminuíram em 2021, mas diagnóstico ainda é tardio

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O número de casos de tuberculose notificados por 100 mil habitantes em Portugal diminuiu em 2021, mas o ritmo da redução abrandou e o diagnóstico ainda é tardio, segundo o relatório de vigilância e monitorização hoje divulgado.

O documento, publicado pelo Programa Nacional para a Tuberculose (PNT) da Direção-Geral da Saúde (DGS), refere que, embora a taxa de notificação tenha baixado em 2021, a quebra percentual foi inferior a períodos anteriores e o impacto da pandemia de covid-19 "ainda não é completamente claro".

"Apesar de tudo, acho que são boas notícias, ou seja, Portugal não aumentou, porque nós tínhamos receio de que, com a covid, houvesse um recrudescimento no número de casos, pois com a pandemia houve uma menor procura dos cuidados de saúde", disse à Lusa a diretora do PNT, Isabel Carvalho.

Os autores do relatório sublinham que a mediana de dias até ao diagnóstico mantém uma tendência crescente, tendo-se agravado em 2021 (79 dias em 2020 e 86 dias em 2021), resultando num diagnóstico mais tardio e, assim, num maior risco de contágio, que apenas é quebrado com o diagnóstico e início do tratamento.

"Parece verificar-se uma tendência crescente [no número de dias até ao diagnóstico] atribuível ao utente, verificando-se um aumento de 40 dias em 2020 para 51 dias em 2021", escrevem.

A este respeito, Isabel Carvalho explica: "A população desvaloriza sintomas porque são similares a outras infeções respiratórias".

"Nós temos o que já tínhamos nos outros anos. A tuberculose, à semelhança dos outros países, vai-se concentrando em populações mais vulneráveis e essas populações, obviamente, têm algumas dificuldades do ponto de vista social no acesso aos cuidados de saúde", reconhece a responsável, explicando que esta situação acaba por fazer com que se adie a procura de cuidados de saúde, o que justifica o numero de dias de atraso na procura atribuíveis ao utente.

O valor máximo de demora ocorreu novamente na população em situação de sem abrigo, o que reforça o impacto da pandemia nos mais vulneráveis e o "papel essencial" da parceria com as estruturas comunitárias e sociais, nomeadamente as organizações não-governamentais, refere o documento, que aponta para um "ligeiro decréscimo" na demora de diagnóstico atribuível aos cuidados de saúde.

A população imigrante mantém-se como a população de maior vulnerabilidade, com uma taxa de notificação 3,8 vezes superior à média nacional (55,8 por 100 mil em 2021), embora se tenha verificado uma redução na proporção de casos em comparação com 2020.

A diretora do PNT aponta uma situação que acaba por proteger a população: "Temos algo que nos vai protegendo, pois cerca de metade dos casos pulmonares são bacilíferos, ou seja, é uma proporção que se tem mantido a descer e estável e significa que a nossa proporção de contágio não é elevada".

No entanto, acrescenta que, se o paciente estiver muito tempo doente, "obviamente vai transmitir na mesma doença".

Segundo o relatório, apesar de o número de novos casos de tuberculose ter vindo a diminuir em território nacional, Portugal continua a ser o país da Europa Ocidental com a taxa de incidência de tuberculose mais elevada.

Isabel Carvalho insiste na necessidade de diagnosticar precocemente os casos e sublinha: "Se nós sabemos que a tuberculose se concentra nos mais vulneráveis, podemos preventivamente atuar e fazer o rastreio da tuberculose, e é o que temos feito, com apoio das estruturas locais".

Sublinha igualmente a importância de oferecer o rastreio da tuberculose integrado noutros cuidados de saúde, dando como exemplo a possibilidade de o fazer às pessoas com dependências, quando elas fazem o tratamento de substituição.

Em 2021 foram notificados 1.513 casos (1.521 em 2020) de tuberculose em Portugal, 1.401 novos casos e 112 re-tratamentos, correspondendo a uma taxa de notificação de 14,6 casos por 100 mil habitantes (14,8 em 2020).

Como prioridade de intervenção, os responsáveis do PNT apontam a identificação dos mais vulneráveis, nomeadamente dos que têm risco acrescido de exposição ou que possam ter dificuldade no acesso aos cuidados de saúde.

A este propósito, numa nota divulgada hoje, a Direção-Geral da Saúde refere que dar prioridade a esta população "permitirá acelerar a redução da incidência da doença e apostar no tratamento preventivo, evitando futuros novos casos".

A DGS adianta ainda que abriu concursos para apoio financeiro às organizações comunitárias, promovendo o rastreio e apoio na administração da medicação nos grupos vulneráveis, em áreas geográficas de maior incidência.