Londres enfatiza que munições de urânio empobrecido não são armas nucleares
O Ministério da Defesa britânico acusou, esta terça-feira, o Governo russo de "desinformar" ao dizer que as munições de urânio empobrecido que vai enviar para a Ucrânia, juntamente com um esquadrão de tanques, tem uma componente nuclear.
Um porta-voz deste ministério realçou que "o Exército britânico usou urânio empobrecido nos seus projéteis perfurantes durante décadas" e apontou que "é um componente padrão e não tem nada a ver com armas ou capacidades nucleares".
"A Rússia sabe disso, mas está deliberadamente a tentar desinformar", sublinhou.
A Defesa do Reino Unido confirmou que, juntamente com um esquadrão de tanques de batalha Challenger 2, fornecerá à Ucrânia "munições, incluindo projéteis perfurantes contendo urânio empobrecido".
Estes projéteis "são muito eficazes para neutralizar tanques e outros veículos blindados modernos", explicou a mesma fonte.
O porta-voz do Ministério da Defesa britânico acrescentou que vários estudos científicos consideraram que "qualquer impacto na saúde em pessoas e no meio ambiente do uso de munições de urânio empobrecido seria provavelmente baixo".
Um ex-comandante do Exercito britânico e especialista em armas químicas, o coronel Hamish de Breton-Gordon, referiu em entrevista à estação BBC que as balas utilizadas pelos Challenger 2 contêm apenas "vestígios" de urânio empobrecido.
Este militar considerou "anedótico" sugerir que estas munições estão de alguma forma associadas a armas nucleares, que usam urânio enriquecido.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, destacou esta terça-feira que os planos de Londres para fornecer à Ucrânia munições com urânio empobrecido apenas vai reforçar a resposta russa, numa reação quase imediata às declarações de uma responsável britânica.
A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russa, Maria Zakharova, também reagiu de imediato e condenou o plano do Governo britânico, que acusou de estar a fomentar "um cenário jugoslavo".
"Esses materiais não apenas matam, mas também infetam o meio ambiente e provocam cancro nas pessoas que vivem nessas terras", asseverou em mensagem na sua conta Telegram.
"É ingénuo pensar que estas armas apenas provocarão vítimas contra quem foram utilizadas. Na Jugoslávia, os militares da NATO, em particular os italianos, foram os primeiros a sofrer", sublinhou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia -- foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.317 civis mortos e 13.892 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.